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Mensagem: Tributo ao Prof. Simeão Ribeiro Pires. Meu Professor de Química e Geografia na E.E. Prof. Plínio Ribeiro, antiga Escola ormal. 1976/77 Por Prof. Sílio Jader. São Paulo. SP. TRIBUTO A SIMEÃO RIBEIRO PIRES Acabo de ler artigo assinado pelo meu amigo – nunca estive com ele pessoalmente – Gustavo Mameluque, abordando fato ocorrido em Montes Claros em tempos que já se foram mas continuam vivos porque o passado jamais morre. Aliás o presente é uma fração de segundo e o futuro não existe. Tudo que somos é o que já vivemos e fizemos. Entre os os citados pelo Mameluque consta o saudoso Simeão Ribeiro. No passado, eu então residente em Montes Claros, egresso de Salvador, eu tinha deparado com ele em um evento e sua personalidade me cativou. Na ocasião fui convidado por uma professora de escola pública, situada na periferia, alunos humildes portanto, para a cerimônia de formatura de sua classe que concluíra o quarto ano primário correspondente hoje à primeira metade do curso fundamental. Adiantou-me que eu teria a oportunidade de conhecer o então Prefeito de Montes Claros que aceitou paraninfar a cerimônia. Surpreso meu interesse aumentou muito. Então o Prefeito arranjaria tempo e disposição para comparecer à formatura de crianças pobres? Alunos carentes de escola pública? Sem sombra de dúvida, eu precisava conhecer essa pessoa. Já era antecipadamente seu admirador. O auditório, cedido pela Associação Comercial, estava repleto. Os formandos uniformizados, cabelos bem penteados, ocupavam as primeiras trinta ou quarenta poltronas, muito alegres e certamente admirados dando a entender que jamais tinham desfrutado de ambiente tão chique, com poltronas estofadas e tão confortáveis. As poltronas dos fundos abrigavam os parentes que “explodiam” de satisfação. Todos envergando seus trajes simples e “domingueiros”. Aqueles “bate, enxuga, sacode e veste”. Também era a primeira vez que viam uma “Professorinha muito louca” – acima de tudo corajosa , Edir minha irmã, – inovar e inventar uma festa de formatura, coisa de gente rica, para alunos como eles – tão pobres e tão humildes - e ainda conseguir a presença do Prefeito. Receberiam diploma. Era demais. Jamais tinham visto isso acontecer na Escola deles. Eu tratei logo de misturar-me com os pais a fim de me tornar invisível e sentir aquela gente que lembrava minha origem pobre lá naquelas, então esquecidas, paragens do Vale do Jequitinhonha. Simeão não se fez esperar. Chegou pontualmente e foi recebido com palmas. Depois de algumas palavras com a Professora, cumprimentou todos com espontaneidade e foi convidado a ocupar o lugar principal no palco. Embora trajado socialmente sua figura era de cativante simplicidade e demonstrava muito respeito pelos presentes. Exceto a própria Professora não havia mais nenhuma autoridade . Não foi por falta de convite. Este fato enalteceu mais ainda a presença do Prefeito. Depois de algumas palavras da mestra e do discurso do orador da turma, isso mesmo, havia orador! O Paraninfo tomou a palavra e deu lições de vida, uma aula de sabedoria, às crianças que ouviram compenetradas e que pareciam não acreditar no que viam ou seja uma autoridade tão importante e tão simples falando com eles o se um deles fosse. Jorrou inteligência, cultura e sapiência, numa linguagem acessível e capaz de ser profundamente captada pelos adolescentes ou melhor crianças ainda. Falou com calma e informalidade para facilitar o entendimento. Ao final Simeão entregou os diplomas e abraçou um por um dos alunos além de presentear a cada um deles com um Dicionário de Português. Apressei-me a cumprimentá-lo mas grupo, pais e filhos, ávidos por apertar a mão do Prefeito aglomeraram em torno dele e acabaram me afastando. Fiquei então a esperar uma oportunidade futura para falar com ele. Só muitos anos depois referida ocasião se fez presente. Residente em São Paulo há bastante tempo costumava, embora raramente, passar alguns dias de férias em Montes Claros com minha mulher e minhas filhas. Ao chegar meu primeiro destino era a Agência do Banco para rever os colegas que me ajudaram fazer funcionar com muita qualidade a engrenagem financeira como era no tempo que lá fui Gerente Administrativo . Minha mudança para São Paulo ocorreu quando fui guindado ao cargo de Inspetor. Rodeado de colegas – o expediente ainda não havia começado – conversávamos alegremente quando fomos interrompidos pela chegada, de quem? Simeão Ribeiro! Fui logo apresentado como se desconhecido fosse mas, na realidade, ele não me conhecia e eu além de conhecê-lo era seu admirador desde que o vi naquele evento de formatura. Dos cumprimentos iniciais a conversa, sem quê nem pra quê, acabou resvalando para literatura e começamos a falar sobre Voltaire especificamente pondo em foco o personagem Dr. Pangloss de Candido e o Otimismo. Identifiquei-me logo como pessimista inveterado e como lidava com essa condição. Ele não perdeu a oportunidade de me dar algumas lições a respeito e esquecemos o tempo. Rolou Marcel Proust, Dostoievski, Vitor Hugo, Machado de Assis e tantos outros. O tempo passou e nos despedimos. Lembrei-me do “Em Busca do Tempo Perdido” e conclui que sai com o Tempo “Ganhado” e uma enorme sensação de que tinha ficado menos pobre ao acrescentar saber ao meu parco estoque intelectual. Pouco tempo depois fui surpreendido com a chegada de um pacote contendo dois livros de autoria do Simeão trazendo-me dedicatórias que muito me orgulharam. As obras são: O Padre e a Bala de Ouro e Raízes de Minas. Professor Sílio Jader. São Paulo, 12/10/2020
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