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montesclaros.com - Ano 25 - quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
 

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Mensagem: ERAMOS SEIS. Montes Claros 1973. Era terça-feira de carnaval do século passado, quando em um fusca azul claro ,chegávamos junto com o entardecer, na Avenida Ouvidio de Abreu em Montes Claros. Éramos seis. Fui matriculado no Colégio São José, bem próximo a nossa primeira morada, na capital do Norte de Minas. Tudo era sonho. Iríamos recomeçar depois de uma passagem do meu pai como Prefeito Municipal de São Francisco. Chegamos, literalmente, com uma “mão na frente e outra atrás”. Meu pai advogado em uma nova cidade “estranha” e minha mãe servidora da Secretaria de Estado de Fazenda. Conhecíamos quase ninguém. E ninguém nos conhecia. Salvo, que me lembre, Dr. Sidôneo Paes Ferreira, que acolheu meu Pai no seu escritório de Advocacia, Dr. Cesário (médico de Christina), Tio Guilherme e Tia Dozinha (oriundos de São Francisco também). Este primeiro ano foi muito difícil. Passamos algumas privações. Com quatro crianças, orçamento apertado e sonhos dilatados. Meus pais desejavam melhor oportunidade de estudos para nós. E assim foi feito. Prioridade total aos “estudos dos meninos” como ouvi por diversas vezes. Nossa origem é barranqueira. Barrancas do Rio São Francisco. Januária, Pirapora, São Romão e São Francisco se misturaram no nosso sangue, nos nossos sonhos e em nossa alma. Mas passamos por alguns percalços. Para mim o primeiro deles foi a pergunta de um professor do Colégio São José (hoje jamais ocorreria): De que família você é? Respondi amarelado: Dos “Mameluques”. O professor insistiu: “Mameluque de onde? Eu meio nervoso e sem graça, respondi:” De Januária e São Romão; sou do Rio São Francisco! O Professor satisfeito me interrompeu: “Seja bem vindo” mameluco” que pode muito bem ser filho de branco e de índio. Na minha sala havia colegas de várias famílias tradicionais do Norte de Minas. Mas fui acolhido por todos eles. Já em 2014 fui matriculado na E.E. Prof. Alcides Carvalho ( Polivalente), uma Escola Pública, que mais se ajustava ao orçamento familiar. Nesta jornada de aprendizado, convivi com homens e mulheres ilustres. Alguns por mais tempo; outros de relance, outros e outras mais distante. Conheci homens do povo, pessoas simples e também políticos, escritores, professores, religiosos, benfeitores e benfeitoras. Tive a alegria de em 1982, fazer a minha primeira entrevista jornalística (era estudante de Jornalismo da PUC) com o Ex- governador Leonel Brizola (que acabara de chegar ao Brasil vindo do seu exílio) e com o antropólogo e escritor Darcy Ribeiro. Esta entrevista se deu na casa de Dr. Mário Ribeiro, próximo a Santa Casa. Eu estava fazendo estágio de férias na Rádio Sociedade com José Nardel, Elias Siuf e Artur Leite (in memoriam) quando em um domingo à tarde, Artur sugeriu que eu entrevistasse o Ex Governador Brizola para o Jornal das 12:00 hs na segunda feira. Assim o fiz. Transcrevi a entrevista com Brizola e ainda levei no retorno a Belo Horizonte para apresentação na Faculdade. Para Darcy, lembro-me, fiz uma única pergunta, meio ingênua:” Como o senhor se sente ao voltar aos Montes Claros, mais uma vez?”“. Ele me respondeu : “ Nunca sai de Montes Claros meu querido! De Leonel Brizola guardo comigo não uma frase dita nesta rápida entrevista, mas publicada na Revista Veja em 1982 : “ O amanhecer é o momento mais bonito do dia, mas, quando ele chega, encontra a maioria das pessoas dormindo”. Talvez por esta fala tenha adquirido o hábito de despertar sempre as 05:00 hs da manhã. Antes do nascer do sol. Aprendi com o Padre Joaquim Cesário Macedo (já falecido) uma lição para toda a vida. E com Darcy Ribeiro a certeza de que” a gente sai de Montes Claros; mas que Montes Claros não sai da gente.” Em uma de suas homilias, domingo à tarde, na Capela do Asilo são Vicente de Paulo, ele dizia que a caridade deve ser valorizada. O acolhimento a pessoas pobres e desesperadas deveria ser a razão de ser do Cristão. Era simplesmente viver o Evangelho. Conta ele que suas irmãs iam sempre ao antigo Asilo de Montes Claros para visitar os “Velhinhos e Velhinhas” lá asilados. Contavam casos, cantavam, davam atenção, levavam alimentos, remédios, em fim, jovens de Montes Claros tinha o hábito de visitar o asilo nos finais de semana. Todos estes jovens eram dignos de elogio e incentivo. Mas uma jovem se destacava de todas as outras jovens. “Ela lavava as feridas dos idosos e enxugava carinhosamente”. Neste momento ele silenciou, Interrompeu a homilia, aproximou-se da primeira fila e beijou as mãos desta Jovem ( na época já Senhora). Ela ficou um pouco sem entender. No final da Homilia ele explicou : “ Beijei as mãos de Cristo”. A convivência com pessoas simples e despojadas é importante na vida da gente. Vejo hoje como foi importante desembarcar nos claros montes, em uma terça-feira de carnaval, em um fim de tarde, desprovido de coisas materiais, mas toda uma pequena família impregnada de sonhos, de desejos, de decepções e ensinamentos, para nos transformarmos em uma família comum : que erra, que acerta e que acredita que a fé, a esperança e o amor podem de fato transformar o mundo em que vivemos. Dedico este artigo de hoje aos meus pais : Pedro Mameluque Mota( In memoriam) e Maria da Gloria Caxito Mameluque. Gustavo Mameluque- Jornalista, Servidor Público e Articulista do Novo JN e Colunista do site montesclaros.com. Membro da Irmandade Nossa Senhora das Merces- Santa Casa de Caridade de Montes Claros- MG

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