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montesclaros.com - Ano 25 - quarta-feira, 6 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Rui e a águia Manoel Hygino Cinco de dezembro é Dia Nacional da Cultura e, há dois anos, a Associação Nacional dos Escritores, homenageou Rui Barbosa, pois também é seu aniversário. O presidente da entidade, Fábio de Sousa Coutinho, lembrou a data, nas Quintas Literárias de 2017, em Brasília. Evocou a memória do monumental advogado, político e intelectual baiano, cuja atuação tanto eleva nossa terra. Ao ensejo, apresentou o orador do mês, o embaixador Carlos Henrique Cardim, diplomata e cientista político, aplaudido especialista na produção cultural ruiana. Para o palestrante, Rui Barbosa, embora figura das mais citadas e referenciadas, ainda é um enigma. Registrou que, embora haja 167 volumes contendo sua obra, ele jamais escreveu um livro. Cardim observou: “O que se publicou são palestras, conferências, pareceres e prefácios”. Citou, à guisa de curiosidade, que ele traduziu, um livro “O Papa e o Concílio”, no qual o prefácio é maior que a própria obra”. E os temas se misturam nas obras de Rui. Sua posição sobre os Estados Unidos, por exemplo, está ao lado de exposição crítica sobre o divórcio. Haveria muito a contar. O palestrante Cardim, com formação em sociologia, registra que Rui nunca foi muito prestigiado na sua faculdade. Afirmou: “Eu só vim conhecer Rui, reconhecer Rui, quando estava no Itamaraty, a partir de um trabalho do Santiago Dantas, em que ele mostrou a faceta desenvolvimentista de Rui. Ele foi o primeiro ministro da Fazenda que o Brasil teve na República e tentou industrializar o Brasil, o que não é pouca coisa. Ele foi contra todo um ciclo de pensamento, de interesses que defendiam, logicamente, um modelo agrícola exportador e quis implantar a indústria”. Observou ainda Cadim: “E depois dizem que Deus é brasileiro. Não é. Tanto que eu mesmo, em debate com o professor Delfim e o Sérgio Amaral, disse o seguinte: Deus é mais norte-americano. Aliás, Bismarck costumava dizer que a divina providência de Deus tem uma especial predileção pelos tolos, pelos bêbados e pelos Estados Unidos”. Rui Barbosa permaneceu pouco tempo no Ministério da Fazenda: oito, nove meses, por aí. Não aguentou as pressões numa situação sobremodo difícil. Enfrentou problemas e inimizades. No Brasil, à época, ou se era pró-Rui ou anti-Rui. Nada de meio termo. Houve um embaixador do Brasil na ONU, antes reitor da USP, ruista doente. Ernesto Leme era seu nome. Numa conferência, ele lembrou o grande baiano como se fora de todos conhecido: Rui para cá, Rui para lá, a Águia de Haia, como apelidado. A certo ponto, um embaixador inglês, muito sarcástico, perguntou ao colega brasileiro: “Embaixador, but who is this Birdman? , que voa por todos os lados? Quem é esse homem Águia?”. Recordou-se mais: o plenário do Senado em Brasília tem apenas dois bustos de Jesus Cristo e Rui Barbosa, este “uma figura quase santificada à distância”, acrescentou Cadim. “O Rui sofreu uma série de interpretações, as mais variadas e todas muito bem fundamentadas, mas como diz o Santiago Dantas (acho que ele foi quem mais estudou e colocou Rui em termos modernos, mostrando o lado não só progressista do Rui Barbosa, mas o verdadeiro), o Rui Barbosa foi realmente, no final da vida, só podia chamar um social liberal alinhado com o trabalhismo inglês totalmente. Somente agora estamos chegando a uma certa serenidade para poder ter uma visão clara”.

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