Receba as notícias do montesclaros.com pelo WhatsApp
montesclaros.com - Ano 25 - quarta-feira, 6 de novembro de 2024
 

Este espaço é para você aprimorar a notícia, completando-a.

Clique aqui para exibir os comentários


 

Os dados aqui preenchidos serão exibidos.
Todos os campos são obrigatórios

Mensagem: A lenda do Famaliá Para o Brasil, por força do cristianismo, não emigrou a divisão clássica dos bons e maus demônios. No politeísmo helênico, como informa Luiz da Câmara Cascudo, o demônio era entidade protetora ou maléfica (Dicionário do Folclore Brasileiro, 8ª ed., São Paulo, Global, 2000:285). Conta-se que existiu, há muitos e muitos anos, na região do Alto Médio São Francisco um abastado fazendeiro, possuidor de invejável fortuna, que pompeava o honroso título de tenente-coronel da Guarda Nacional, que, por um dever de respeito que é imposto aos mortos, não se revela o nome. Não tinha sido ele sempre rico. Ao revés, era um mísero lavrador. Lamentando sua desdita, o pobre do homem queixava-se amargamente do destino que lhe havia tributado a condição humilde de desafortunado. Só o demônio, ele pensava, poderia ajudá-lo. Mas, como encontrá-lo? Por casualidade – e foi por casualidade que Newton descobriu a Lei da Gravidade – o lavrador encontrou no poleiro um ovo de galo e resolveu chocá-lo. Para quem não sabe – e poucas pessoas sabem disto – quando ficam velhos os galos põem um único ovo, um pouco maior que um ovo de codorna. O lavrador apanhou o ovo e levou-o para casa, guardando-o com esmerado cuidado, disposto a ajuntá-lo a outros debaixo da primeira galinha que cantasse choco, pronta para incubá-los. Noite cerrada, quando todos dormiam, sob o comando de forças invisíveis aos olhos humanos, ele saiu a caminhar pela estrada, sem destino certo. Em uma encruzilhada, brotando da terra, formou-se um redemoinho forte, levantando folhas secas e gravetos para o ar, cercando o lavrador. Uma voz cavernosa, saída do vendaval em torvelinho, disse: – Você foi escolhido pra ser rico. Abjure suas crendices, renegue tudo que lhe pertence e eu farei de você um homem rico. Espavorido, como Judas diante do Remorso, o lavrador balbuciou: – Amigo! Quem é vosmecê? O que é que vosmecê qué? – Darei a você todas as riquezas desse mundo, só basta você me entregar sua alma. Sem esperar resposta, depois de um breve silêncio, a misteriosa voz continuou: – Volte pra casa. Apanhe o ovo que você guardou e choque debaixo do braço. Espere quarenta dias. Se você tiver paciência e cuidado, as sua misérias vão acabar finda a quarentena. Ouviu-se, em seguida, uma ruidosa gargalhada, estridente e prolongada, que ecoou pelo agreste. O vento ficou mais forte fazendo redemoinhar esqueletos, em cambiantes cintilações, bracejando em um ranger de dentes, balançando frementemente dentro do torvelinho e ao redor do corpo inerte do pobre lavrador. O redemoinho parecia querer suspender, com invisíveis tenazes, o corpo do agricultor. O diabo manifestava-se claramente como o espírito do mal, não o demônio de Sócrates, o gênio do bem, condutor das fabulosas criações do pensador universal. Como por encanto, com a mesma rapidez como tinha começado, o redemoinho amainou-se. Fez-se aterrador silêncio. As folhas secas estavam no chão, como se nada tivesse acontecido. Extenuado, sem forças para controlar-se, o lavrador desmaiou. Ia já alto o astro do dia quando ele despertou, na manhã seguinte, em pleno agreste, deitado no meio da estrada. Alquebrado com o peso das forças sobrenaturais, voltou para casa disposto ao sacrifício. Durante quarenta dias, manteve o pequeno ovo protegido debaixo do braço e, para sua surpresa, no quadragésimo dia, um capetinha, do tamanho de um dedo, não mais que isso, quebrou a casca do ovo. O lavrador, com medo de perdê-lo, prendeu-o em uma garrafa e, a partir desse dia, a fortuna lhe sorriu. Todos os seus desejos eram logo satisfeitos. Desde então, quebrado o segredo pelo próprio lavrador, para se justificar perante seus amigos, outros, porém poucos, seguiram o exemplo do Coronel e fizeram fortuna rápida. Por um pacto que se estabeleceu depois, quem tivesse um Famaliá nunca revelaria a terceiros a sua condição de possuidor. Sigmund Freud, analisando as semelhanças entre Deus e o demônio, para justificar os antigos pactos do homem com o último em busca da felicidade terrena, nos leva ao entendimento de que Deus e o demônio são em tudo semelhantes, apenas o segundo, por ter decaído do poder, deixou de ser o espírito da luz para ser o espírito das trevas. O homem, em passado não muito remoto, em estado de depressão, de revolta, de desencanto, para ser libertado desse mesmo estado firmava compromissos com o diabo, desprezando as benesses de Deus.

Preencha os campos abaixo
Seu nome:
E-mail:
Cidade/UF: /
Comentário:

Trocar letras
Digite as letras que aparecem na imagem acima