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Mensagem: Desde o Parnaíba Manoel Hygino Médico-escritor não constitui novidade. Basta um correr de olhos pelas prateleiras das bibliotecas e localizar nomes de facultativos, brasileiros (ou não), que se devotaram às letras. Nem me refiro aos livros científicos, porque estes são obrigação do profissional. Aqui em Minas não há exceção. Está na moda, com toda justiça, Guimarães Rosa, o grande nome no século passado, nascido em Cordisburgo, onde se situa a gruta famosa, e Pedro Nava, natural de Juiz de Fora, com ancestrais do Nordeste. Ou, ainda, o excelente Agripa de Vasconcelos, de Matozinhos. Os três, alunos e formados pela Escola de Medicina de Belo Horizonte, integrante hoje da Universidade Federal de Minas Gerais. Francisco Chagas Lima e Silva veio à luz no município de Magalhães de Almeida, no Maranhão. A outra margem já é Piauí, e o rio Parnaíba, que separa os dois estados, pode ser atravessado a nado. No Piauí, nasceu Francelino Pereira dos Santos, que aqui colou grau como advogado, e ascendeu ao cimo político como governador de Minas e integrou a Academia Mineira de Letras. Quanto a Chagas, aparece agora com “pirlampejos”, poemas, o quarto fruto de sua criação literária. A edição é da Sarau de Letras, de Mossoró, Rio Grande do Norte. Com isso, desfaz-se a ideia de que a cidade é apenas local de presídio, que assusta o Estado há anos com fugas e vinditas entre os detentos. Chagas veio para Belo Horizonte com 17 anos, em 1959, com objetivo de estudar medicina e construir carreira acadêmica. Logo, ingressou na Faculdade de Ciências Médicas, que funcionava em prédio em frente do hospital central da Santa Casa e por ela cedido temporariamente. O edifício, que deu lugar ao atual jardim, existiu até 1967. Em 1965, concluiu medicina e, no ano seguinte, integrou a primeira turma de residentes em clínica médica da instituição. Atuou como clínico no hospital até 1970. Casou-se na capital, gerou filhos, inclusive um profissional da área médica residente e atuante nos EUA. Iniciou mestrado na USP e, após o curso, retornou a Belo Horizonte. Foi professor titular de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, e doutorado em Medicina Tropical pela Federal, e pós-doutorado na Universidade de New Hampshire, nos Estados Unidos. Na Santa Casa, ideou o projeto para implantação da pós-graduação Stricto Senso, resultando no Instituto de Ensino e Pesquisa (IEP) da instituição. Pela primeira vez no país, um hospital filantrópico e sem ligação com universidade federal ou escola de Medicina conseguiu implementar e oferecer cursos de mestrado, doutorado e pós-doutorado. O amor pela literatura, contudo, integra desde cedo suas realizações e devoções, ouso dizer – com obras expressivas, contos e crônicas: “Murmulhos” e “Humanâncias”; o romance “Donzela do Candeeiro” e “Pirlampejos”, lançado neste 2019. Em Minas, Chagas se revelou para a literatura e produziu páginas de rara inspiração, sempre lembrando a infância humilde e a adolescência, como comenta o escritor de sua terra Clauder Arcanjo: “sua poesia é plena de luz, advinda do fulgor das águas transparentes do rio da recordação”. “Mortalha”, incluído no volume mais recente, é simbólico. Alguém bate na janela e acorda o dono da loja durante a madrugada profunda. “Um pai clama para comprar – sem dinheiro pra pagar – meio metro de morim para a mortalha do filho. Não parece tão aflito. No semblante, um certo alívio: quanto mais novo o menino, mais curto o pedaço de pano, mais próximo da casta de anjo, maior a certeza do Céu”.
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