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Mensagem: Flor do Céu Manoel Hygino Os espaços que os veículos de comunicação deram ao ensejo do falecimento do cantor-compositor João Gilberto, no último fim de semana, estiveram acima das expectativas. Superaram os relacionados com o passamento de ilustres estadistas como os que registraram, por exemplo, a morte dramática de John Kennedy, em Dallas, mesmo a de Onassis ou Jacqueline, viúva do ex-presidente democrata dos EUA. Ou dos Beatles, entre os artistas. Pela imprensa de cá, se tratava de um notável artista carioca, porque a eles o Rio e São Paulo fazem singular exposição e exaltação. Mas aquele que nos deixou, há poucos dias, era um baiano, de Juazeiro, por sinal. Estes detalhes, contudo, não lograram maior realce nos noticiários, aparentemente secundários. Enfim, depois de décadas no Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa, o artista da Bahia, conterrâneo de Caymmi, Gal Costa e Caetano, se tornara carioca. Sem esse verniz, nada ou pouco feito. Mas, João Gilberto passara por Diamantina, a velha Tejuco de JK, a quem e a que dediquei um livro publicado há pouco mais de um ano. A verdade é que nordestino, descendo no mapa e na geografia, teria inequivocamente de atravessar as montanhas, como aconteceu com inúmeros brasileiros. Com João Gilberto não foi diferente, pois aspirou ares diamantinenses para alcançar o Atlântico, via RJ, e alçar a notoriedade. A permanência, durante algum tempo, de João Gilberto em Diamantina, eu já soubera pelo livro “Vesperata”, de Wander Conceição, um estudioso da música naquele rincão. O fato foi resgatado e corroborado agora por Pacífico Mascarenhas, empresário e compositor, cujo irmão Caetano lá viveu e se tornou companheiro de JG em noites de boa conversa. Teria sido gestada na velha Tejuco a bossa nova? O jornalista Paulo Narciso responde: “O tempo, senhor dos homens, clareará”. Outro fato é que Diamantina e Montes Claros, irmãs em termos de modinhas disputaram a autoria de “É a ti, flor do céu”, uma das mais notáveis cantadas Brasil afora. Anos depois, soube-se: a modinha não é de Diamantina, nem de Montes Claros. Veio da Tchecoslováquia, terra de origem da mãe de JK, para aqui trazida pelo bisavô materno do ex-presidente. Quem desfez o mistério foi um embaixador tcheco, ao visitar o Tribunal de Justiça de Minas. Naquele dia, o coral do TJMG ensaiava em sala ao lado da sala do presidente do tribunal, o desembargador Hélio Costa, que nos contou o episódio: “imagina que o embaixador visitante me agradeceu, comovido, tê-lo recebido com acordes da sua terra, a Tchecoslováquia”. A modinha, aqui popular, era cantada ao lado, com letra em português, com a melodia tcheca de “É a ti, flor do céu”. Diamantina recebeu dos eslavos ocidentais a melodia. E pôs sua lírica e paixão na letra que não se apaga, atribuída a Teodomiro Alves Pereira, mas acolheu o que de belo havia. A luz de João Gilberto se apagou, Minas continua brilhando em todo o Brasil, consolidando a tendência reclusa do baiano que liderou a “bossa nova”, sem fazer declinar o prestígio do samba-canção, pelo qual os brasileiros de Norte a Sul tinham predileção. A letra aqui trabalhada para a modinha é simplesmente representativa do melhor sentimento brasileiro: “Quem me dera, outra vez esse passado! essa era ditosa em que vivi; quantas vezes na lira debruçado, cantando em teu colo adormeci”.
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