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Mensagem: Sarney analisa a hora Manoel Hygino Dos ex-presidentes da República, um dos mais falantes e soltos é, sem dúvida, José Sarney, que – no ano vindouro – completa 90 anos, uma idade respeitável. Ainda na ativa, concedeu entrevista a um jornal de Brasília com duração de mais de quatro horas. Respondeu a todas as perguntas, mesmo as mais indiscretas, como as sobre o atual ocupante do Palácio do Planalto. Começou: “pela primeira vez, estamos num momento que é imprevisível. Fratura no Judiciário, no Legislativo e no Executivo. Todas estas estruturas estão trincadas”. Mais adiante, respondeu a outra pergunta: “o presidente Bolsonaro está no meio de um furacão. A crise internacional de recessão catalisou a crise brasileira. Estamos em um momento da história mundial em que presenciamos não um mundo de transformação, mas um mundo transformado. Temos que lidar com o choque das civilizações, o fim da civilização industrial, o começo da civilização e das comunicações digitais. Temos que lidar com a pós-verdade, com uma sociedade líquida, como bem fixou Zygmunt Bauman. Temos que compreender que estamos, no Brasil, muito atrasados para enfrentar essa crise que o mundo está vivendo. Então, o presidente Bolsonaro está tendo que enfrentar esses problemas, todos mundiais. Era o momento de nós termos um presidente que tivesse uma visão de todas essas modificações que vive o mundo, para poder enfrentá-las”. O ex-presidente é cáustico com relação ao presente e ao futuro. Quando se lhe perguntou se a oposição tem agido corretamente, ele foi direto e reto: “não há oposição. Nós estamos em um momento no Brasil em que não temos nada. Até a oposição não existe”. Sarney, de que se ouve pouco pelos meios de comunicação, pelo menos com a franqueza ou coragem com que se houve na recente entrevista, diz mais: “e as crises que o Brasil vive? O Brasil vive uma crise com partidos, porque quando temos 60 partidos, entramos na lei de Montesquieu. Este disse que, quando tem muitos partidos, não temos nenhum. Nós, também, estamos com uma classe política vivendo a crise da democracia representativa, isto é no mundo inteiro. Os políticos estão demonizados. É a busca do povo a partir para uma democracia direta, sem representantes”. Impossível sintetizar todas as observações do antigo presidente sobre o atual. Para ele, Bolsonaro está colocando todas as cartas na ameaça do caos. E isso, na realidade, aumenta os problemas que nós vivemos, porque desapareceram nas utopias e nós não podemos matar a esperança. O que se vê é que, todo dia, se dá uma solução, uma visão escatológica do fim do mundo, em face da reforma da Previdência, sem se oferecer outras expectativas de esperança. Quando se matam as utopias, é difícil que se sustentem as expectativas do país somente com uma reforma. Na realidade, a reforma é uma coisa que se fala permanentemente, porque vivemos em um mundo em transformação. Em seguida acrescenta: “Todas as cartas estão sendo jogadas em um único objetivo, sem esquecer de que o presidente não tem maioria dentro do Congresso”. Faz pensar.
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