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Mensagem: 1964, 31 de março Manoel Hygino Movimento ou Golpe, pouco importa. O que aconteceu em 31 de março de 1964 continuará na memória dos brasileiros que viveram aquele tempo ou dos que interesse têm pela história. Os fatos estão aí, embora envolvidos, bem ou mal, por quantos dão a sua interpretação e versão. Naquela data, porém, a imprensa de todo o país, inclusive das duas maiores capitais, faziam a cobertura de um episódio que passou a ser “o crime das Irmãs Poni”, atraindo a Ouro Preto multidão de repórteres e curiosos do “grand monde”. Flávio Andrade, residente na antiga capital do estado, a tudo acompanhou porque pretendia escrever um relato minucioso e amplo. Eu, que redigia a reportagem para “Manchete”, já a maior revista do Brasil e cuja sucursal chefiava em Belo Horizonte, estava lá para assistir ao segundo julgamento de um caso de amor e morte. Flávio Andrade começou seu trabalho: “tinha tudo para ser uma novela das nove. Uma dama da alta sociedade, acompanhada da irmã, dá dois tiros na amante do ex-marido à luz do dia. Dois tiros na nuca. E, de quebra, ainda fere a madrasta do ex-companheiro. Tudo isto na elegante pousada de uma das mais importantes cidades turísticas do Brasil. Depois do crime, fogem para a capital e são presas numa barreira policial. A assassina descendia de italianos, foi miss na sua cidade e era campeã de tiro. O morto, filho de um ex-vice presidente da República e ex-governador do estado”, presidente de uma poderosa empresa de extração de ouro. O crime fora em 1962 e a vítima, que frequentava as colunas sociais, era filha de um coronel do Nordeste, neta de um juiz de Direito pernambucano, morava no Rio de Janeiro, mulher simpática e moderna, fluente em francês e inglês, 30 anos. O primeiro julgamento ocorreu em abril de 1963. As irmãs foram absolvidas. A apelação conseguiu anulação do júri e da respectiva sentença. O segundo julgamento, marcado para 31 de março de 1964, atraiu a elite do país, a imprensa toda, hotéis e hospedarias lotados. Reforçou-se a segurança, boa parcela da população pôs-se ao lado das autoras, de esposa traída pelo marido. A amante recebera o merecido. Flávio Andrade em sua exposição conta a experiência de Manoel Hygino dos Santos: “Ao mesmo tempo em que cobria o julgamento, recebia informações desencontradas sobre a movimentação das tropas do general Olympio Mourão Filho. As comunicações eram precárias. Tinha-se de fazer fila na telefônica local, distante do Fórum, para mandar notícias para redações em Belo Horizonte, Rio ou São Paulo. “Não esperamos a noite toda. Pegamos os carros e voltamos para capital para esperarmos os fatos de 31 de março, quando o 1º de abril se anunciava. A serra estava invadida por névoa densa e perigosa. Os faróis na rodovia demonstravam que havia mais do que um júri na velha Vila Rica”. O julgamento exigiu pesos pesados do mundo jurídico. Entre eles, Jair Leonardo Lopes, criminalista contratado pela família de Maria de Lourdes, a vítima, assistente de acusação, atuando ao lado do promotor Hélio Ramos. Tudo levava a crer que as irmãs seriam condenadas. Do outro lado, o então deputado Pedro Aleixo, que realizou uma defesa emocional, ressaltando as condições de uma mulher abandonada pelo marido. Ao seu lado, o advogado Edmundo José Vieira, que se dedicava também a atividades educativas. Aleixo conseguiu o supostamente impossível, com as teses de que as manas tinham agido “coagidas pelos valores morais da sociedade da época”. Deixaram a cadeia, julgadas inocentes, em 5 de novembro, indo dividir seu tempo entre sua fazenda em Pompéu e apartamento em Belo Horizonte, falecendo a autora em 1977, aos 68 anos. Pedro Aleixo se reelegeu deputado federal, teve participação no regime militar, o único que votou contra o AI-5. Depois, a vice-presidência e interino na presidência da República.
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