Sol e Calor. Nas ruas de agosto, em Montes Claros, catopês operam a troca de guarda entre gerações - e asseguram o seguimento da tradição bicentenária
Sexta 18/08/17 - 10hBENEDITO
O reinado de hoje, o de S. Benedito, ou rosa, em contraste com o azul do primeiro dia e o vermelho do sábado, sempre do Automóvel Clube para a Igreja do Rosário, está marcado para as 11h, mas costuma atrasar.
A TROCA
O percurso é curto, mas permite ver que a festa cultural mais importante de M. Claros - se mantém a mesma marcação dos tambores e o colorido bicentenários - vai ensinando à cidade o que a maioria dos Catopês, homens simples, também desconhece: a silenciosa troca de guarda, a tradição em curso, a caminho.
SUCESSÃO
Catopês e marujos, que desfilam há 60/70 anos, ou "brincam" como eles dizem, alcançados pela idade, muitos apoiados em bengalas, muletas e cadeiras de roda, transferem a tradição para filhos e netos, assim como receberam dos avós, sem qualquer explicação oral ou salamaleque.
AUTÊNTICOS
Dois irmãos, dos mais autênticos catopês da história de M. Claros, os mestres Tonão e João Faria, comparecem com dificuldade, este ano, já na faixa dos 70 anos, e iniciaram a sucessão. Comparecem, mas sabem que sem eles, sem o vigor físico dos últimos 60 anos, a tradição seguirá, como sustentaram seus avós.
SILÊNCIO
Se o corpo dá sinais de fragilidade, o espírito da festa resiste neles - que já têm a descendência longamente instalada entre os dançantes. E a troca de guarda, emocionante e silenciosa, se opera nas ruas de agosto, à frente de todos, mas percebida apenas pelos que frequentam a intimidade do grupo humilde que a cidade, e eles próprios, chamam de catopês, resumindo a tradição que está no cerne da cultura de M. Claros.
MIL
E, assim, vão sustentando anonimamente a festa há quase 200 anos, desde que M. Claros tinha mil habitantes, tradição que dá identidade à civilização, o ajuntamento novo, que aqui se instalou nos anos 1700, a partir das Bandeiras paulistas de Taubaté.