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Mensagem: Quando Roma fala Manoel Hygino É um fato inédito: pela primeira vez na história da igreja católica um cardeal é expulso da vida religiosa por motivos sexuais. Aconteceu, no segundo mês de 2019, quando o papa Francisco despachou o norte-americano Theodore McGarrick, de 88 anos. É uma decisão irreversível, por emanar a sentença da Congregação para a Doutrina da Fé, que zela e vela pelo respeito ao dogma católico. McGarrick é alvo de acusações, inclusive por abusar de três menores e ter assediado padres e seminaristas adultos, e objeto de investigações desde setembro de 2017. Já proibido de exercer o ministério, encontrava-se privado de todos os direitos e prerrogativas de sacerdote, inclusive celebrar missa. Para o pontífice, que enfrenta esse e outros tipos de problemas semelhantes, a tolerância é zero para esses casos. Seguramente, o tema será debatido, de 21 a 24 de fevereiro, no Vaticano, quando também se examinará a responsabilidade de prelados que silenciaram sobre agressões sexuais a menores. Os problemas que afetam os membros da igreja, qualquer que seja o escalão ou área, têm exigido especial atenção e cuidado singular do atual ocupante da cátedra de Pedro. Mesmo diante da suma gravidade das questões, ele não se omite. Em janeiro, voltou a tratar do celibato de padres. Questionado por determinadas alas da igreja, afirmou que a ordem não pode ser uma opção. Foi taxativo: “pessoalmente, acho que o celibato é um presente para a igreja. Em segundo lugar, eu não concordo em permitir que ele seja opcional, isto é, se será possível casamento de padres ou ordenação de homens casados dentro do rito romano”. Sem embargo, sua santidade considerou a possibilidade desse tipo de relação em lugares muito remotos, como as ilhas do Pacífico ou a Amazônia, onde “existe uma necessidade pastoral. É algo em discussão com os teólogos, não uma decisão minha”, acautelou-se. Não poderia dizer se o pontífice, que é argentino de Buenos Aires e torcedor do San Lorenzo, sofre de insônia e de pesadelos como eu, porque o peso do seu dever como chefe de igreja é imenso. Evidentemente não é fácil conduzir os problemas da Santa Sé e da desobediência de seus seguidores, não tão fiéis às lições de Jesus, como se desejara. Tanto é verdade que Francisco, de volta dos Emirados Árabes para Roma, em janeiro passado, admitiu também, pela primeira vez, que padres e bispos abusaram sexualmente de freiras. Mas se comprometeu a fazer mais na luta contra essa situação. Em sua opinião, não se deve, nem se pode, deixar de fazer algo, a partir da constatação de fatos tão graves. Não se restringiu, contudo, às religiosas desrespeitadas. O pontífice lamentou ainda os ataques a mulheres, de um modo geral, e afirmou que a humanidade não pode manter-se impassível, porque elas não são seres de segunda classe. E um dos modos de agir a respeito reside exatamente nas suspensões e expulsões de religiosos, sejam padres ou personalidades dos altos escalões eclesiásticos, mesmo em Roma. É o caso de lembrar-se: Roma locuta, isto é, se a Santa Sé falou, está falado. Mas convém lembrar o que registrou Fernando Guedes de Mello, um profundo estudioso: “o entrelaçamento de fatores políticos, econômicos e religiosos na vida da igreja parece ter começado com o Concílio de Niceia, em 325, convocado pelo próprio imperador Constantino. O casamento do trono com o altar daí resultante foi um claro descumprimento das recomendações de Jesus de dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.
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