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Mensagem: O quadro na parede Manoel Hygino A gente olha mas não vê, porque não presta a devida atenção ou não dá o necessário valor à imagem. Assim é. Na sala do provedor da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte, Saulo Coelho, há um quadro a óleo da sede da Fazenda das Palmeiras, em Ubá, imóvel que lhe pertence, depois do inventário e acordo com os demais herdeiros. Ali, aliás, nasceu Raul Soares, presidente de Minas na segunda década do século XIX. O povo da Zona da Mata Mineira é muito especial nos negócios de Estado, e Raul Soares foi um deles. Segundo o historiador João Camillo, nascido em Itabira, foi Raul uma das grandes figuras de seu tempo e sua morte prematura deixou um vácuo na política brasileira. Raul Soares foi estudar, ainda jovem, no Ginásio de Campinas, uma espécie de Colégio Pedro II, no Rio, defendendo ali tese sobre cancioneiros medievais, mas não se cingiu a “trovas e cantigas de amigo”. Terminou a vida no Palácio da Liberdade como chefe do Executivo. Daniel de Carvalho, ex-deputado federal, que bem o conheceu, descreveu seu perfil: “Raul Soares passou pela esfera política como um meteoro, um grande bólide que, em vertiginosa ascensão, iluminou o cenário como o clarão de sua fulgurante passagem. Em pleno zênite, apagou-se de repente, fulminado pelo rio traiçoeiro da morte”. Mais adiante, observa: “Raul Soares, elegante, alerta, de maneiras aristocráticas, cheio de confiança em si mesmo, ia direto ao alvo, com aquele vozeirão tão seu e gestos comedidos, mas cortantes. Suas atitudes eram claras e definidas. Amava o jogo, os bons vinhos, a boa mesa, a dança, as artes, a literatura, a poesia, todas as coisas belas da vida. Casou por amor e foi inteiramente feliz no matrimônio. A morte prematura da primeira esposa o abateu profundamente. Casou novamente por amor e encontrou no novo lar o que dele esperava em dedicação e ternura”. E politicamente? Também Daniel de Carvalho diz o suficiente: “na vida pública ou privada, gostava de pôr as cartas na mesa. Era franco e positivo. Dava a sua opinião sem rodeios e sem esperar pela do interlocutor. Era cruel na ironia e no sarcasmo, quando necessários; zurzia impiedosamente os falsos, os hipócritas, os aduladores, os mentirosos, os covardes”. Tinha fama de valente, detestando os bajuladores e os atos de servilismo. Acreditava em Deus, mas não foi um modelo de católico, lamentando não possuir a graça e fé em todos os mandamentos da Igreja. Era, também, fundamentalmente um homem de Minas, da montanhosa divisa com o Espírito Santo, como disse, ao tomar posse no Senado da República, José de Alencar, em 1999. Na ocasião, Alencar evocou a personalidade do senador Levindo Ozanam Coelho, pai de governador – Ozanam Coelho; aquele uma “figura nazarena, impoluta”, autêntico sábio, como um membro da Câmara de Lordes, “pela compostura e pela serenidade”, como o classificou Nertan Macedo. Em resumo: “homem no velho estilo de Minas, modelo antigo da Província que tanto deu para a glória do Brasil, em ouro das suas entranhas e em virtude de seus filhos”. Levindo Coelho foi um autêntico pater famílias, “genuíno humanista e extraordinário líder. Sabia dosar com perfeição o conhecimento, fruto do esforço intelectual, com a experiência humana da vida cotidiana, empregando o equilíbrio e o bom senso nas decisões e nas ações”. É como vejo o quadro na parede.
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