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Mensagem: VIVENDO DE AMOR Ao escrever “Cine São Luiz, meu Cinema Paradiso” contei que o padre da cidadezinha italiana, onde se passa a história, censurava os filmes a serem exibidos, por questões morais e religiosas. Exigia que todas as cenas de beijo, por ele consideradas obscenas, fossem cortadas pelo projecionista Alfredo. Aqui no Norte de Minas, aconteceu um fato semelhante. Antigamente, como havia dito, antes de iniciar a exibição do filme, tocava-se um prefixo musical para alertar a plateia que o espetáculo iria começar. Numa vizinha cidade, que por discrição não cabe mencionar o nome, a música executada não era sempre a mesma, como em Montes Claros. Tocavam-se os “Tops” das paradas de sucessos das rádios. O público ao entrar no cinema, informava ao bilheteiro a canção que gostaria de ouvir, e este avisava ao operador da cabine de projeção a mais votada para ser tocada na possante vitrola radiofônica. Naquele ano, 1960, o sucesso das paradas era um antigo sambinha, composto em 1936 por Lupicínio Rodrigues, mas muito bem revigorado na voz da promissora cantora Elza Soares – “Se acaso você chegasse”. Nome do seu primeiro long play. A rapaziada, ao entrar no cinema, pedia “bota a Elza para nós”. O refrão da música dizia: “De dia me lava a roupa... de noite me beija a boca, e assim vamos vivendo de amor”. O velho sacerdote da cidade, ranzinza e moralista, tinha pavor do “me beija a boca”, e do “vivendo de amor”. Nos sermões, desancava a canção e a pouca vergonha da letra. Vetou sua execução nas quermesses, nos leilões e proibiu de tocarem a música nas sessões de cinema. A revolta foi geral. Na igreja e nas quermesses o padre mandava, mas no cinema já era demais. O povo protestou e decidiu que, se não voltasse a tocar o disco da Elza Soares, todos deixariam de assistir os filmes. O dono do estabelecimento, vendo que seu negócio ia naufragar, entrou num acordo com o sacerdote. Uma censura pontual. Levou o padre até a cabine de projeção, mandou tocar o disco e, com o dedo marcou o exato momento do “beija a boca”. Retirou o LP do prato e, em seguida, entregou ao padre uma tesoura para que ele fizesse um pequeno risco na parte pontuada. Feito o serviço, o proprietário do cinema consultou o sacerdote: - Pronto, Reverendíssimo? Agora podemos tocar o disco? O padre, todo inchado, vitorioso, autorizou: - Pode! Na sessão daquela noite, sala cheia, todos na maior expectativa, depois de terem votado quase unanimemente no sucesso de Elza Soares, caíram na gargalhada ao ouvir a música. A emenda ficou pior que o soneto. Com o risco do padre o sambinha ficou assim: “‘... de dia me lava a roupa..., de noite fuc, fuc, fuc..., e assim vamos vivendo de amor...”.
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