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Mensagem: PENITÊNCIA PARA CHOVER Da nossa reminiscência guardamos coisas fantásticas. Dias destes da janela do nosso apartamento – chovia muito - eu deslumbrava a precipitação que me evitava avistar a cordilheira do espinhaço que divide o vale do Jequitinhonha com nosso Verde Grande. Logo veio uma lembrança que não foge de mim – dos tempos de penitência para chover - chegou a dar um nó na garganta que parecia nunca desfazer. Em período prolongado de estiagem, um grupo de cristão reunia na igreja do Asilo São Vicente de Paula para uma caminhada até ao pé do cruzeiro da Igreja do Morrinho. Minha avó Alzira Ponciano, Dona Henriqueta Pereira, Dona Antônia Rabelo, Dona Joaninha Procópio (esta ultima, monitora da Estação Climatológica que ficava à Rua João Souto c/ R. General Carneiro) e outras religiosas sempre narravam histórias para nos animar, diziam que depois do grande período de estio dos anos 30, elas voltaram a penitenciar, e tiveram um bom ano de chuva, e que os percursos das precisões eram muito maiores que os das Igreja de São Vicente ou da Matriz para a colina de (*)Dona Germana. Nós, os pelegrinos: crianças, adolescentes, homens, mulheres e padres – carregavam a fé que alimentava a esperança. Nas cabeças e nas mãos, latas e potes de barro com água e flores, pedras na cabeça e ramos de mato e capim e a imagem da padroeira do Brasil – Nossa Senhora de Aparecida, tudo era depositado no pé do cruzeiro e aos pés da imagem de Cristo Redentor que fica no largo da igreja (antes cercado por um balaústre de alvenaria). Para amenizar o sacrifício sob o Sol ardente, todos com bonés, chapéus, lenços e guarda chuvas. Das peregrinações que os fiéis faziam a mais penitente era do percurso da Praça da Matriz – onde reuníamos ao lado do Coreto, seguia pela Rua Dr. Veloso, encontrava com um grupo idosos da Igreja do Asilo, subia pela Rua General Carneiro, tomava a Rua Melo Viana, chegava na ladeira Cônego Quirino até o largo da Igreja. Sempre éramos recebidos por Dona Geralda “parteira”, Dona Sinhá, Dona Iaiá e pelo folclórico Manoel Quatrocentos – todos moravam no Morro da Igreja. Toda trajetória da peregrinação, as orações era um só coro – as crianças à frente dos adultos - como manda a tradição; eram nove dias de penitencias, mas, muitas vezes antes de completar a novena da fé, a chuva caia. Certa vez – por volta das 16;00 horas - quando chegamos lá em cima da colina - depositamos os apetrechos no pé do cruzeiro, começamos as cantigas, e, logo começou um evento de trovões, desceu um pé d’água daqueles com pedregulhos de gelo e ventos, logo acalmou; fomos acomodados na casa da Dona Geralda por mais de uma hora – a mangas que caíram das mangueiras da casa do Manoel Quatrocentos (onde hoje é a Intertv) serviram de lanche para a criançada, e para alguns adultos. Três dias depois do vendaval iniciaram de fato as chuvas do ciclo e, perduraram por mais de quatros meses com dias espaçados com sol e chuva. Os produtores rurais agradeceram a DEUS pela fartura do milho, feijão, arroz das baixas e bois gordos. A mesma molecada que iam as penitências, sem que os pais e os avós soubessem – usavam o dedão do pé e o calcanhar para desenhar o olho de boi para a chuva parar. Mas, quando eram descobertos, ficava uma semana sem jogar “finca” - bolinha de Gude ou “bentealtas” (cabaspará). Hoje estamos presos aos dados compilados pela tecnologia. Mas, só DEUS sabe! Para finalizar: A fé está acabando e tem muitos Abutres da Seca que torce para não chover devido o ´conflito de interesses” (*) Há 116 anos 15/11/1902 - Faleceu Dona Germana Maria de Olinda, aos 86 anos de idade. Nasceu em Minas Novas. Mudando-se para Montes Claros, construiu, em cumprimento de uma promessa, a Igreja do Senhor do Bonfim, situada no alto do Morrinho, com esmolas e donativos arrecadados por ela, com aquela finalidade, aos quais acrescentava, não raro, o pouco que possuía de suas parcas economias. A Igrejinha, que tinha o modesto nome de Capela foi inaugurada a 14 de setembro de 1886, com procissão saída da Matriz e bênção do padre Manoel da Assunção Ribeiro, então Vigário da Freguesia. A Capela tinha o nome de Santa Cruz do Morrinho e a imagem foi doada pelo Dr. Antônio Augusto Velloso Estando em ruínas, foi reconstruída por ordem do Engenheiro Dr. Demósthenes Rockert e reinaugurada a 29 de fevereiro de 1948. > José Ponciano Neto é Escritor, Historiador da Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas (AMALEN) e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros (IHGMC).
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