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Mensagem: A mãe de Guevara Manoel Hygino O ambiente latino-americano é, no mínimo, inquietante. Enquanto a ex-presidente da Argentina é submetida a julgamento por desvio de recursos públicos, a Venezuela enfrenta a maior crise econômica talvez de sua história. O “talvez” tem sentido e significado, como depreenderão os que conhecem mesmo de longe a crônica do mais rico – talvez novamente – da América do Sul. Simultaneamente, a Nicarágua amarga as consequências de praticamente meio ano de embates entre forças governistas e grupos que defendem a queda do atual presidente Daniel Ortega. Em junho, a atividade do país caiu 12,1% em comparação com o mesmo mês no ano anterior. Peruano de Arequipa, Mario Vargas Llosa, escritor, jornalista e pesquisador renomado, é um apaixonado pela América Latina, apesar de tudo. É, não: era, porque já falecido. No entanto, deixou escrito: a diferença é que na América do Norte as 13 colônias se uniram e isso acelerou o deslanche nacional, enquanto os nacionalismos, as guerras e os conflitos sangraram os países do Sul, desperdiçando ingentes recursos que poderiam ter servido para a modernização e o progresso. De personagens marcantes da América Latina, Llosa guardou muitas lembranças ou as descreveu. Por exemplo: quando morava em Paris, num apartamento muito modesto, de dois quartinhos, na rua de Tournon, recordava muitos episódios. Um dia, chegou-lhe de Hilda Gadea, primeira mulher de “Che” Guevara, pedido para que acolhesse uma amiga sua que voltava de Cuba para a Argentina, pois devido ao bloqueio imposto por Tio Sam se via obrigada a passar pela Europa. A senhora (declara o escritor que não tinha dinheiro para sequer pagar um hotel) era Célia de la Serna, mãe de Che. Ficou alguns dias ali, antes de voltar a Buenos Aires, “melhor dizendo, à prisão e à morte pouco depois”. “Nunca saiu de minha memória a lembrança daquele episódio: a mãe do todo-poderoso comandante Guevara, segundo homem da revolução, que dilapidava muito dinheiro financiando partidos, grupos e grupinhos revolucionários de meio mundo, não tinha como pagar um hotel e precisava recorrer à solidariedade de um escriba meio insolvente”. O autor de Arequipa critica: “é bom que o iluminismo revolucionário e o exemplo minimalista e dogmático de Che Guevara tenham se desprestigiado e que não mais mobilize jovens de hoje na convicção que o animou. Segundo ela, a justiça e o progresso não dependem dos votos e das leis aprovadas por instituições representativas, mas da eficácia bélica de uma esclarecida e heroica vanguarda”. Agora, que todos morreram, é útil, quem sabe, repetir o que disse Llosa: “não é bom que o desencanto com o messianismo e o dogma coletivista tenha trazido consigo, também, a desaparição do idealismo e ainda do mero interesse e da curiosidade pela política nas novas gerações, sobretudo nessas sociedades que dão agora os primeiros passos na experiência da liberdade”. Depois, advertência: “só quando desaparece ou ainda dele se sente saudades como de um belo ideal, o sistema democrático é capaz de inspirar o tipo de entrega e sacrifício, extremos que não são incomuns nas filas de quem, como o Che, combatem um dogma messiânico”.
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