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Mensagem: Nas asas do tempo Informa-nos James Russell Lowell que “a juventude é um defeito; é um defeito do qual nos curamos muito rápido”. Há muito me despedi da juventude, das mundanas ilusões, dos sonhos da mocidade. Sem ousar dizer que a vida parou e nada há mais por escrever, sou levado a ver, como disse Alexandre Herculano, que “debaixo dos pés de cada geração que passa na Terra dormem as cinzas de muitas gerações que a precederam (...) Como de pais a filhos as diversas gerações se continuam e entretecem sem divisão (...) e como o octogenário, na vizinhança do túmulo, não vê à roda de si, nem pai, nem irmãos, nem amigos da infância, mas filhos, netos, mas existências todas virentes, todas cheias de vida, e sente com amargura que o seu século já repousa em paz e espera por ele que tarda”. Com as mundanas ilusões dissipadas pelos dissabores da vida e as esperanças deterioradas no curso final da existência, resolvi editar em livro uma coletânea de artigos, que publiquei em jornais, para preservação dos mesmos, por já me encontrar cansado da jornada de noventa anos. Um livro de crônicas, naturalmente, mas há quem não goste de crônicas em livro. Não é esse o meu entendimento. Os jornais passam; os livros ficam. Para publicar os artigos em um livro, teria que escolher ou eleger um nome, um título. Pensei primeiramente em “Contemplação”, posto que, em verdade, os artigos nada mais são que uma aplicação do meu espírito ao cotidiano da vida. Mas este título poderia ser visto como plágio, isto porque Franz Kafka, um dos maiores escritores de ficção da língua alemã, do século passado, deu à primeira coletânea de seus escritos o título de “Contemplação” (Betrachtung). Afastei a ideia, sem muita convicção, pois temos “Clarissa” de Samuel Richardson e “Clarissa” de Érico Veríssimo; “O Laço Húngaro” escrito por Fernando Benedito Júnior e “O Laço Húngaro” da lavra de Dário Cotrim; “Cartas para Mariana” de Osmar Pereira Oliva e “Cartas para Mariana” de Vera Abad; “O Retrato” de Érico Veríssimo e “O Retrato” de Charlie Lavett; “O Capital” de Karl Marx e “O Capital” de Thomas Piketty; “Caminhos Cruzados” de Érico Veríssimo e “Caminhos Cruzados” de Eulália Alves da Mata Machado. Pensando em outro nome, deparei-me com uma frase poética do imortal Luiz de Paula Ferreira: “O tempo é um estranho pássaro que voa de asas leves, as penas da cor do vento”. Em homenagem a Luiz de Paula fixei o título: “Nas asas do tempo”.
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