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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 8 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Wander Piroli em três tempos 1ºTempo : E ele dizia não ser exemplo para ninguém Alberto Sena Depois da publicação do livro “Wander Piroli – Uma manada de búfalos dentro do peito”, de Fabrício Marques, edição da Conceito Editorial, conforme o prometido ao autor, eu torno público um texto escrito sobre o mestre e amigo, Piroli. Foi um dos exemplares humanos mais importantes conhecidos nesses anos vividos. Aliás, ele foi uma das pessoas com as quais aprendi uma quantidade para chegar até este estágio de vida. Recordo-me como se tudo estivesse acontecendo agora, daquela manhã de maio de 1972, quando o conterrâneo jornalista Robson Costa me apresentou ao Piroli, a pedido do então editor geral Cyro Siqueira, na Editoria de Polícia do jornal Estado de Minas. Piroli estava sentado à mesa na redação e me assuntou com os olhos verdes perscrutadores de quem nascera no Bairro Lagoinha, em Belo Horizonte, lá onde havia zona boêmia e ele via e ouvia o som de navalhas cortando o ar da malandragem. Trocamos poucas palavras e ele me entregou ao repórter Fialho Pacheco, o mais importante da época do jornalismo romântico (cinco vezes Prêmio Esso), com um ensinamento que considero fundamental: - Vamos sempre buscar o porquê das coisas. Fulano matou? Matou. Por quê? O outro furtou, roubou? Sim. Por quê? Havia, ainda, censura prévia à imprensa. Pegamos o finalzinho dela. O sensor ficava nas oficinas. Não se podia falar dos acontecimentos políticos e policiais sem correr o risco de censura. Era censura oficial de governo militar e, também, censura vinda do 2° andar do prédio da Rua Goiás, 36, onde funcionava a Redação do Jornal Estado de Minas. Sempre conseguíamos burlar a censura. A equipe era da melhor qualidade: Paulo Emílio Coelho Lott (Peclott), Fialho Pacheco, Vargas Vilaça, Paulo Narciso, João Gabriel da Silva Pinto, Tito Guimarães Filho, Marcos Andrade, Arnaldo Viana. Não que houvesse instrução neste sentido, mas mostrávamos os acontecimentos em sua realidade nas linhas ou, senão, nas entrelinhas para burlar a censura tanto a oficial quanto a do jornal. Ele era visto ideologicamente como comunista, desde os tempos de estudante e advocacia. Em verdade, era um pouco de tudo, anarquista também. Era um homão, gigante bem-humorado. Passar um tempo com Piroli era um privilégio, porque de um aprendizado fora do comum. Houve uma época em que jogávamos futebol de salão, hoje futsal, na quadra do Olímpico. Éramos adversários. Tião Martins e outros colegas jogavam. Disputando com Piroli uma jogada, ele pisou literalmente na bola e escorregou, teve o tornozelo quebrado em alguns pontos. Fez até um ruído característico de ossos partindo. Ele teve de ficar de molho durante uns dois meses porque puseram vários parafusos no tornozelo dele. Recordo-me de uma vez em que durante o fazimento de uma reportagem no mato, ali nos arredores do Bairro das Indústrias, o delegado Edson Deroma, da Delegacia de Furtos e Roubos, deu um tapa no rosto de um suspeito de haver assaltado um banco. Isso na frente dos repórteres. Com o cinegrafista da Itacolomi filmando. E na presença do superintendente da Metropol, delegado Ignácio Gabriel Prata Neto. Pior, o indivíduo nada tinha a ver com o caso. Narrei tudo ao Piroli e tínhamos de encontrar uma maneira de noticiar o fato, ao qual ele deu o título; “Delegado dá tapa terapêutico no rosto de suspeito de roubar banco”. Mas, para mim, Piroli era um humanista de corpo inteiro e alma. Ele nutria grande amor à raça humana. Solidário e de coração tão grande quanto o próprio corpo. Foi um precursor do movimento em defesa do ambiente inteiro, numa época em que a termologia criada na reunião de Cúpula da Terra, em Estocolmo, era incipiente, ao publicar o segundo livro dele intitulado “O Menino e o Pinto do Menino”, baseado em uma história do filho, Bumba, que ganhara na escola um pinto amarelinho e o levou para casa, isto é, o apartamento onde a família morava. E agora, o que fazer com o pinto do menino?! (Aguardem o Tempo 2, amanhã. Leiam o livro “Wander Piroli – Uma manada de búfalos dentro do peito”, do poeta escritor Fabrício Marques.).

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