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Mensagem: Os loucos varridos Manoel Hygino Recorremos aos meios de comunicação. No dia 14, delegado da Polícia Federal em São Paulo faleceu, em decorrência de tiro na barriga, durante assalto a sua casa no elegante bairro do Morumbi. No mesmo dia, Auman al Zawhiri, chefe da rede terrorista Al-Qaeda, convocou sua gente para lutar contra Estados Unidos e Israel, em represália pela inauguração da embaixada de Tio Sam em Jerusalém. No dia da solenidade, 52 palestinos perderam a vida nos conflitos na Faixa de Gaza, entre tropas de Israel e manifestantes contrários. A televisão mostrou tudo. Em Montes Claros, minha cidade natal, em plena luz do dia, numa de suas mais movimentadas ruas, dois assaltantes invadiram uma clínica médica usando armas de fogo e capacetes. A clientela correu em todas as direções. Uma senhora com a filha se ajoelhou, de cabeça baixa, debruçando sobre a filha para protegê-la com o próprio corpo. Um dos meliantes, com mochila nas costas e arma na mão, aproximou-se da mãe para tentar apoderar-se de algo antes de fugir. O mundo está louco, ou é louco, a julgar pelo que diz Rubem Alves, num artigo que o pensador Francisco Guedes de Melo me enviou, há mais de quatro anos. O palestrista e escritor, para responder a uma pergunta, declarou: “Os que me convidaram supuseram que eu, na qualidade de psicanalista, deveria ser um especialista no assunto. Eu também pensei. Tanto que aceitei. Mas foi só parar para pensar para me arrepender. Percebi que nada sabia. Eu me explico. Comecei o pensamento fazendo uma lista das pessoas que, do meu ponto de vista, tiveram uma vida rica e excitante, pessoas cujos livros e obras são alimentos para a minha alma. Nietzsche, Fernando Pessoa, Van Gogh, Wittgenstein, Cecília Meireles, Maiakóvski. E logo me assustei. Nietzsche ficou louco. Fernando pessoa era dado à bebida. Van Gogh matou-se. Wittgenstein alegrou-se ao saber que iria morrer em breve: não suportava mais viver com tanta angústia. Cecília Meireles sofria de uma suave depressão crônica. Maiakóvski suicidou-se. Todas elas pessoas lúcidas e profundas que continuarão a ser pão para os vivos muito tempo depois de nós termos sido completamente esquecidos. Mas será que tinham saúde mental? Saúde mental, essa condição em que as ideias comportam-se bem, sempre iguais, previsíveis, sem surpresas, obedientes ao comando do dever, todas as coisas nos seus lugares, como soldados em ordem-unida, jamais permitindo que o corpo falte ao trabalho, ou ter um amor proibido ou, mais perigoso que tudo isso, a coragem de pensar o que nunca pensou. Pensar é uma coisa muito perigosa... Não, saúde mental elas não tinham. Eram lúcidas demais para isso. Elas sabiam que o mundo é controlado pelos loucos e idosos de gravata. Sendo donos do poder, os loucos passam a ser os protótipos da saúde mental. Claro que nenhum dos nomes que citei sobreviveria aos testes psicológicos a que teria de se submeter se fosse pedir emprego numa empresa. Por outro lado, nunca ouvi falar de político que tivesse estresse ou depressão. Andam sempre fortes em passarelas pelas ruas da cidade, distribuindo sorrisos e certezas”.
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