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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 8 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Minha homenagem de hoje Maria Luiza Silveira Teles Hoje, Dia Internacional da Mulher, minha lembrança se foca principalmente em uma, que passou por minha vida e abriu caminhos para a Mulher em Montes Claros: minha mãe. Nunca quis aparecer, nunca foi mulher de sociedade, de buscar brilhos, mas deixou sua marca naqueles que com ela conviveram e em seus muitos alunos de ioga. Sempre ressaltava: “Consegui formar um só”: Renilson Durães. Zezé Silveira, como era conhecida, advinda do sul de Minas, filha de famílias portuguesa e alemã, aqui veio parar, no fim da década de 50, acompanhando meu pai, Geraldo Tito Silveira. E, logo, abalou a provinciana cidade de Montes Claros com seus costumes bastante avançados para a época. Criada na capital e acostumada a frequentar o Minas Tênis Clube, onde nadava, fazia ginástica e jogava voleibol, chegou à Praça de Esportes e, em horário masculino, mergulhou na piscina, sem tomar conhecimento, e foi, depois, jogar vôlei com os homens, enquanto seus filhos se divertiam pela Praça. Foi um enorme “ti-ti-ti” na cidade... Mulher jogando vôlei e com homens? Nadando em horário masculino? Um escândalo! Como podia ser uma “mulher direita” alguém que se atrevia a tanto? Depois, ainda mais, dirigindo jipe, caminhonete, resolvendo negócios, conversando com homens, entrando no Batalhão? Ela, porém, jamais se preocupou com aparências ou com que outros comentavam. Vivia sua vida e jamais se preocupava com a vida dos outros a não ser quando alguém que conhecia estava em sofrimento ou precisava dela por algum motivo. Costumava dizer: “Só tenho satisfações a dar a Deus e ao pai de vocês”. Era uma mulher forte, corajosa, de porte elegante, parecendo para muitos como orgulhosa. Entretanto, na intimidade, era de uma simplicidade incrível, embora tivesse nascido em família rica e aristocrata, escandalizava até os seus, de ares muito refinados, com sua simplicidade. Depois dos sessenta anos, já avó de vários netos, formou-se em duas faculdades e aprendeu sânscrito, para meu grande espanto. Disse-lhe que tiraria o chapéu para ela se conseguisse aprender essa língua morta e ela me surpreendeu. Quando foi prestar exames junto à UFMG e a PUC, eu lhe disse: “Desista, mamãe, isso não importa, a senhora não vai conseguir!”, pois a danada, com sua teimosia tão peculiar, conseguiu brilhar. Trabalhou até além um pouco dos oitenta anos como Mestra de ioga (ela me mataria se me visse escrever ioga com i, pois, em sânscrito, a palavra é escrita com y...). Sempre falava com carinho de suas velhinhas. Eu perguntava sempre: “Quem são elas, mamãe?” e ela me respondia sempre: “Quer conhecê-las? Visite-as comigo”. Mas, eu não me animava. Certo dia, porém, ela demorou-se em Belo Horizonte por causa de uma cirurgia que complicou. Aí, eu que já morava com ela, atendia telefone, a todo o momento, com mulheres de vozes bem próprias da idade avançada a perguntar por ela. Acabei cansando-me e perguntei a uma delas: “Quem é a senhora, qual seu nome, por que tantas mulheres idosas ligam atrás dela?”. E ela me respondeu: “É porque ela traz a cesta básica para a gente todo mês e esse mês ela ainda não veio.” Aí, eu entendi tudo. Ela cumpria fielmente os preceitos de nosso Mestre Jesus: “Que sua mão esquerda não saiba o que faz a direita”. Quando ela voltou, passei a ir com ela nas visitas às “suas velhinhas” e tive o enorme prazer de conhecer criaturas fabulosas como dona Negrinha, com seus quase cem anos. Trocávamos versos... Hoje, oito de Março de 2018, quero homenagear mamãe, essa criatura maravilhosa, que soube criar com dedicação seus seis filhos e ainda tinha tempo para o marido, suas aulas, seus estudos, seus esportes, seus Congressos, seus passeios, suas leituras, seus amigos e suas velhinhas. Além dela, quero homenagear essas anônimas criaturas, hoje em outra dimensão, assim como ela, mulheres esquecidas por suas famílias e pela sociedade, mas que mostravam em suas rugas o quanto haviam lutado, e, com seus sorrisos, sabiam valorizar e amar quem nunca se esquecia delas. Maria Luiza Silveira Teles (membro da academia Montes-clarense de Letras)

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