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Mensagem: Sombra de Inspiração Petrônio Braz Quando escrevo gosto de ter, como fundo, em surdina, uma música romântica, com sentimentos e poesia na letra, especialmente do quarteto insubstituível: Orlando Silva, Francisco Alves, Sílvio Caldas e Carlos Galhardo, ou, ainda, Dolores Duran, Altemar Dutra, Edu Lobo, Dorival e Nana Caymmi, Maysa e tantos outros. Letras extraordinárias da lavra de um Jorge Faraj, David Nasser, Mário Lago, Mauro Rossi, Cristóvão de Alencar, Torres Homem, Chico Buarque de Holanda, Carlos Imperial, Herivelton Martins, Fernando Lobo, João de Barro e outros. Ouvindo a “Praça” uma composição de Carlos Imperial, interpretada por Ronnie Von, fui levado, pelas lembranças do passado, a sentar-me, em pensamento, no mesmo banco da antiga Praça Governador Valadares, em São Francisco, de onde olhava o coreto neoclássico e observava as lindas moças, virgens e puras (pleonasmo ou redundância necessária), fazendo o passeio informal (footing) nos princípios de noite. Não se fixa a individualidade sem a presença de fatores materiais, que a identifiquem. Não se recorda o passado e não se vive as lembranças sem que os elementos que os compõem existam como ponto de referência, isto porque “as lembranças se apoiam nas pedras da cidade”. A velha e clássica Praça foi demolida por um administrador desvinculado da história e das tradições locais, edificando no local outra sem qualquer atrativo. Desliguei a “Praça” e resolvi relembrar o passado com “A Deusa da Minha Rua”, letra de Jorge Faraj e música de Newton Teixeira, uma das mais belas canções românticas da música popular brasileira. Nós crescemos, a cidade cresceu, outras Praças poderiam ter sido edificadas, mas a Praça lá deveria ainda estar presente, a mesma Praça, que nos fixasse culturalmente à terra natal. Ainda em São Francisco, nada era mais lindo do que o cais natural, de pedra calcária, que por muitos e muitos anos protegeu o centro da cidade das inundações do rio São Francisco. A beleza natural foi destruída, por alto custo, para no mesmo local ser construído um simples muro de concreto, sem qualquer atrativo e finalidade. Desliguei “A Praça” e passei a ouvir “Caminhemos”, de Herivelto Martins, interpretação de Nelson Gonçalves, na busca de uma ida indefinida para lugar nenhum, já que o passado, uma vez destruído, não mais retorna. Passei, depois, para “Copacabana”, de João de Barro e Alberto Ribeiro, interpretada por Dick Farney, desviando o sentido para que a mente retornasse ao objeto primeiro do trabalho literário em execução. Desfrutei, em seguida, “Chuvas de Verão”, de Fernando Lobo, versão gravada por Caetano Veloso. A saudade, nascida da lembrança da velha Praça, levou-me a sintonizar “Adeus”, lindo samba-canção de Sílvio Neto, na interpretação magistral de Francisco Alves. Antes de afastar-me do computador fui até Dorival Caymmi, na interpretação de “Marina”. Coisas da idade. A música é um lenitivo, a mais perfeita de todas as artes humanas. Em dias outros prefiro a música clássica ou erudita. Nesses dias busco a inspiração ouvindo os semideuses Tchaikovsky, Mozart, Beethoven, Bach, Schubert ou Wagner. Recebi de Clarice Sarmento um correio eletrônico com a música divina de Tchaikovsky, que ouço diariamente por uns instantes, com respeito quase religioso, afastando do espírito a materialidade da vida.
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