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montesclaros.com - Ano 25 - quinta-feira, 14 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Moderadamente Geraldo Mauricio Contava o Juiz de Direito aposentado, Augusto José Vieira Neto, no seu primeiro livro, ´ Estórias do Bala´, que ao presidir um juri no Fórum da cidade mineira de Jequitinhonha, por volta de 1983, interrogava o réu: -O senhor bebe? Respondeu o réu: - Bebo sim dotô, ingualzinho o sinhô, umazinha todo dia, no bar da beira do rio, em frente ao fórum. Para manter a respeitabilidade, o Juiz fechou a cara e, praticamente aos gritos, determinou ao escrivão: - Registre-se: que o réu bebe, mo-de-ra-da-men-te!!! A plateia conteve o riso, para satisfação de todos. Augusto sempre levou a vida intensamente e o que nunca fez foi vive-la moderadamente. Tudo nele era superlativo: alto, mais de 1metro e oitenta; sempre acima de 100 quilos; bebia muito; comia muito; falava muito alto e sorria mais alto ainda. Dono de uma memória e inteligência acima do normal, era detentor de um poder de convencimento admirável, daí sua competência como professor. Bala Doce sempre foi muito sensível com relação às artes, principalmente a música e o cinema. Sobretudo amava profundamente sua terra, sua gente e seus costumes, como diria o historiador Hermes de Paula. Amava muito a vida e as mulheres, muitas mulheres. Idolatrava os pais, seus familiares e seus mestres que lhe ensinaram os caminhos da vida e principalmente os amigos. Sempre muito fiel aos amigos, exaltava-os nas qualidades, porém implacável nas críticas de seus erros e vacilos. A sua grandeza d´alma e generosidade, entretanto, corrigiam os estragos provocados nas relações em razão da sua franqueza ferina. Muito vaidoso, irreverente e libertário, atropelava a vida, as pessoas, as convenções, as instituições, a moral e os costumes, à medida em que elas conflitavam com suas opiniões, coerência e maneira de ver o mundo. Era acometido de arrobos de grandeza, coragem e ousadia nos desafios que enfrentava. Fino contador de casos, se firmou como um perspicaz cronista do cotidiano, mestre no uso do humor fino ou mordaz. Sempre muito engraçado, porém com intervalos de melancolia e solidão, provavelmente nos períodos de ressaca etílica ou arrependimento. Augusto Jose Vieira Neto, foi meu professor de Ciências Políticas no ano de 1972, quando cursava o Bacharelado em Sociologia e Ciências Sociais, pela Fundação Norte Mineira de Ensino Superior - UNIMONTES. Além da admiração que sempre nutri pelo filho de uma vizinha, Maria Helena Vieira, companheira inseparável de minha mãe, Augustão foi sempre um grande amigo. O tempo passou e Augustão Bala Doce mudou-se para Belo Horizonte e nos vimos muito pouco a partir de então. Após concluir a faculdade fui morar e trabalhar em Brasília, Distrito Federal. Em 2008, trinta e poucos anos depois, um grupo de amigos nascidos em Montes Claros em 1948, ou seja, comemorando 60 anos, resolveu reunirem-se em uma festa para lembrar dos velhos tempos do interior de Minas. Bala Doce foi convidado e de pronto aderiu ao grupo, mas lembrou-nos logo que era mais velho, entretanto por admirar a todos, ficava honrado com o convite. O encontro aconteceu, em Montes Claros e durou 3 dias, como toda boa festa naquela terra. Augustão se encantou com as comemorações, bebeu pinga, comeu pequi, cantou, dançou e escreveu várias crônicas publicando-as na imprensa local e nas redes sociais, encantado com a meninada, com dizia sempre. Após a festa, comprou a ideia de colecionar e publicar uns livros de casos escritos pelos participantes do grupo, inclusive incluindo alguns dos seus escritos já editados e nos ajudou também na revisão dos textos dos autores menos experientes. Estas historias após 6 meses se transformaram no Livro ´ Éramos felizes e sabíamos´, que foi lançado em animadas noites de autógrafos, em Brasília, Belo Horizonte e Montes Claros. Histórias de casos verídicos e engraçados, realmente acontecidos com os membros do grupo. Augustão foi um dos 18 autores que autografaram a obra e ajudou a vender muitos exemplares com o maior orgulho. Como sempre, o Bala lembrava que, apesar de ser bem mais velho que a turma de 1948. Esta era sua vaidosa forma de lembra-nos que era de outra turma, curiosamente só 3 anos a mais; ele nasceu em 1945. Todos éramos contemporâneos em uma época de ouro do interior das Minas Gerais. A empreitada bem-sucedida de transformar-nos em´ escritores´, motivou-nos a repeti-la com outro livro, utilizando os mesmos autores, os mesmos métodos de produção e edição porem com outro tema mais desafiante. Assim, nasceu o livro, ´Amor na Zona´, relato de experiências verídicas, contendo uma forte dose apimentada de bom humor, acontecidas com alguns adolescentes e suas histórias bem ou malsucedidas. O livro foi um sucesso ainda maior e mereceu um lançamento especial que aconteceu no sábado dia 2 de junho de 2012, numa tarde de autógrafos na livraria Mineiriana em Belo Horizonte, durante as comemorações do Dia Internacional das Prostitutas. No dia anterior, no Hotel Liberdade, um bordel 5 estrelas da capital, havia acontecido um evento festivo que promoveu o encontro entre os autores e a imprensa, com o fim de promover o livro. Foram convidadas as famílias dos autores do livro uma vez que, teoricamente, suas esposas e mães, nunca haviam frequentado uma zona boemia e a curiosidade em saber o que acontecia em tais lugares era imensa... Como destaque especial, contou-se com a participação da professora pesquisadora, Leticia Cardoso Barreto, Mestre em Psicologia e Ph.D. em Ciências Humanas do Núcleo de Identidade de Gênero e Subjetividades da Universidade Federal de Minas Gerais, cuja tese é focada no estudo de casos sobre a prostituição em Belo Horizonte. Participaram também da festa, as diretoras do sindicato prostitutas mineiras e algumas profissionais filiadas. Um grande ´happening´ profano, mas com raro componente intelectual... Fechando a lista de convidados, veio de São Paulo a escritora e ex prostituta Raquel Pacheco, a Bruna Surfistinha, que já tinha publicado vários livros sobre sua própria vida de garota de programa. Ela foi a maiores atrações do lançamento do livro “Amor na Zona”, principalmente pelo sucesso alcançado com o filme ´Bruna Surfistinha´, estrelado por Débora Secco, no circuito nacional e visto por mais de 1,5 milhão de espectadores. Lotação máxima do salão, casa fechada exclusivamente para os convidados, só mesmo Augusto Jose Vieira Neto, conseguiria o local sem custos para os organizadores com a interferência de seu amigo, Paulo Boechat, manager do Hotel, localizado a pouco mais de 500 metros do Palácio da Liberdade, sede do governo do Estado. Raquel Pacheco foi a rainha da noite. Autografou conjuntamente com os autores o livro Amor na Zona e os seus próprios títulos. No dia seguinte esteve também no lançamento oficial da obra na Livraria Mineiriana, eventos de grande impacto na mídia da capital mineira, Como resultado até o ´Blog do Anselmo´ do Jornal o Globo, noticiou o evento e a produtora do Programa do Jô Soares, Anne Porlan, sondou-nos da possibilidade de entrevistar o ex Juiz e o organizador do livro. Augustão não topou ir ao Jô e a ideia morreu no nascedouro. Partiu só, no dia 22 de outubro de 2017, aos 72 anos, sendo encontrado morto em seu apartamento, na sua cidade natal, para onde havia se mudado nos últimos tempos. Agora, não o teremos mais para uma segunda festa dos 70 anos e nem na produção do provável terceiro livro da turma. Que pena Bala, sentiremos sua falta companheirão.

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