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Mensagem: A PARTIDA DE UM PASTOR DE ALMAS Não o veremos mais em sua bicicleta e batina rota. Depois de toda uma vida dedicada ao outro, ele foi chamado de volta à nossa pátria verdadeira. Como um homem é capaz de deixar toda uma cidade de luto e órfã? Essa é a reflexão mais importante que ele nos deixa. Numa era tão materialista e voltada para o exterior, tivemos o privilégio de ter entre nós um verdadeiro discípulo de Cristo. Um homem de uma humildade incrível, que jamais parou para pensar em si, mas viveu unicamente para servir. Quando eu estava na Santa Casa com meu pai para morrer, ele apareceu do nada e perguntou: “Onde está Geraldo?” Eu e minhas primas estávamos na ante-sala, esperando o enfermeiro dar banho em papai. Eu respondi: “É aqui mesmo, mas ele está sendo banhado”. Ele disse: “Não importa. Eu vim dar-lhe a unção dos enfermos e vou fazê-lo aqui mesmo com vocês. Vamos todos nos dar as mãos”. E, juntos, o seguimos na prece de entrega do espírito de papai ao Senhor. Mas, quem o chamou? Nunca vou saber por que quando perguntei a ele a resposta foi:´ Não me lembro´. Meu pai o admirava muito. Sempre dizia: “Aquele é um padre de verdade. Ele me faz lembrar Dindinho Padre”. Dindinho Padre era o Padre Augusto Prudêncio da Silva, primo de minha avó e quem arrebatou meu pai, quando criança, e o levou de cavalo por toda a enorme paróquia. Papai conta a sua história no livro “O Padre Velho”. Para nós da família ele é e será sempre o Dindinho Padre. Não sei se por essa semelhança ou se realmente pelo que ele foi e pela beleza de sua vida, aprendi a amar muito o Padre Henrique, embora não seja católica, nem tenha convivido com ele. Hoje, o vazio tomou conta de mim. Perdi uma referência. Sei que é o abalo da hora, pois tenho certeza de que O Pai Maior reservou para ele um maravilhoso lugar na outra dimensão Estamos vivendo uma época em que a sociedade consumista e voltada apenas para o capital acabou por se tornar esquizofrênica, sendo os seus membros polarizados e apenas reativos, sem tempo nem vontade para se tornarem reflexivos. Nesse momento de luto, devemos parar um pouco e lembrar que a vida é um sopro que se apaga num instante. Depois de viver muitos anos e chegar à velhice, compreendemos como tudo passa rápido. Iremos todos para outro plano de mãos vazias, assim como chegamos. Só levaremos conosco a nossa essência. Estaremos diante do Pai apenas com os tesouros que acumulamos nessa vida, isto é, com nossas aprendizagens no campo da virtude. Já viram alguém sentir falta de uma criatura fútil e cruel? Não. Por esse ninguém derrama lágrimas. Mas, hoje, choramos pela ausência do Padre Henrique. Por quê? Porque ele agiu como um verdadeiro pai. Deu comida a quem tinha fome. Água a quem tinha sede. Agasalho a quem tinha frio. Ele acolheu com seu carinho e seu carisma todos aqueles que o buscaram em momentos de aflição, necessitados de conforto. E fez muito mais: sabendo que o ser humano não necessita apenas do pão, mas também do alimento espiritual e intelectual, ele criou verdadeiras escolas não somente para o ensino de disciplinas curriculares, mas verdadeiras escolas de amor. Pessoas como ele, que espalham vibrações de amor e paz, ficam para sempre na memória dos membros da sociedade que ajudaram a transformar. Padre Henrique Munáiz exemplificou amor, humildade, abnegação e entrega absoluta. Estamos devolvendo-o ao Criador, mas seu exemplo ficará conosco como um farol a guiar-nos pelas noites sombrias e pelos árduos caminhos da Vida. Ele parte para a eternidade e fica na História de Montes Claros e no coração de todos nós. Maria Luiza Silveira Teles (presidente da Academia Montes-clarense de Letras)
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