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Mensagem: Um eclipse sem Alkmim Manoel Hygino Construída a partir de 1927, a mando do então presidente da República Washington Luís, a primeira penitenciária de Minas, na zona rural de Contagem, na Fazenda das Neves, com 925 hectares, só foi inaugurada em 1938, porque o sucessor, Getúlio Vargas, não conseguira antes agendar o ato. No governo de Benedito Valadares em Minas, o autor da façanha e primeiro diretor da Penitenciária Agrícola de Neves foi José Maria Alkmim, nascido em Bocaiúva, provedor da Santa Casa de Belo Horizonte por 37 anos, secretário de Estado, deputado federal (ousou debater com Lacerda na tribuna da Câmara na antiga capital), ministro da Fazenda de Juscelino (seu antigo colega de trabalho na Imprensa Oficial), e um dos mais hábeis políticos da velha escola mineira. Murilo Badaró, deputado, membro da Academia Mineira de Letras, que a presidiu, advertiu para os casos pitorescos e o anedotário, objeto de crônicas e publicações envolvendo Alkmim, homem de espírito aberto e de inteligência privilegiada. No Rio, capital da República, Tenório Cavalcanti, da antiga UDN, criticou em aparte o bocaiuvense, do PSD: “A política mineira está com urticária, quanto, mais se mexe, mais coça”. O orador, de imediato, respondeu. “Ainda bem que temos o bom antialérgico do civismo de nossa causa”. Quando se anunciou um eclipse total do sol, em 20 de maio de 1947, a ser visto, especialmente, em Bocaiúva, correligionários e opositores disseram que se tratava certamente de alguma artimanha de Alkmim, que procurava dar evidência a seu próprio nome e de sua cidade natal. Foi, indiscutivelmente, um acontecimento. Diversas expedições científicas se dirigiram para lá, para coleta de dados e estudos posteriores sobre o fenômeno, que poderia fornecer elementos ligados à desintegração atômica. Mais ganhava expressão, porque se vivia o vazio imediato ao pós-Segunda Guerra Mundial. A imprensa internacional se deslocou para a cidade norte-mineira e Bocaiúva passou à mídia, recebendo a maioria das delegações científicas. Os russos preferiram Araxá, mas o mau tempo não permitiu estudos. Anunciara-se que o próprio Albert Einstein viria para analisar o fenômeno, mas o cientista desistiu da viagem no último momento. No entanto, o engenheiro e físico dos EUA, Lyman James Briggs, diretor do Nactional Geographic Society, e o astrônomo belgo-americano George Van Brisbroeck, estiveram em Bocaiúva e confirmaram a Teoria da Relatividade, em 1952. Este último declarou: “Viajamos 10 mil quilômetros por ar, dos Estados Unidos da América e, em seguida, ocupadíssimos com os preparativos para observação do eclipse. Tivemos pouca oportunidade de sentir a vida em vosso grande país! Podeis ser testemunhas oculares do grande espetáculo que nos trouxe aqui”. Neste agosto de tanto desgosto para os cidadãos brasileiros, houve outro eclipse, o do dia 21, desta vez sem Alkmim. A Nasa foi peremptória no comunicado: “O céu escurecerá por completo, a temperatura irá cair e será possível contemplar tanto as estrelas quanto a atmosfera do Sul...” Tudo foi documentado com a máxima tecnologia. A lua ficou entre a Terra e o Sol, tapando-o por completo, acompanhado o fenômeno por onze satélites e cinquenta balões meteorológicos. Recolocou-se uma nave espacial que orbita a Lua, enquanto um Boeing 747 se deslocava com cientistas a bordo. Na América do Sul, o eclipse foi parcial. Mesmo em Bocaiúva. Se Alkmim vivesse, talvez fosse total e visível.
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