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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 15 de novembro de 2024
 

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Mensagem: NÃO ESTAMOS PREPARADOS PARA ENVELHECER! * Marcelo Eduardo Freitas Segundo estudos da Secretaria de Direitos Humanos do Governo Federal, nossa população idosa cresceu 55% em dez anos, representando hoje 12% dos brasileiros. Agregado a esse dado revelador, tive recentemente a oportunidade de visitar o Lar das Velhinhas, que fica bem no centro da cidade de Montes Claros. A visita se deu na última semana, e, confesso, sai de lá muito introspectivo e reflexivo: de um modo geral, pude observar que não estamos preparados para cuidar de nossos idosos e não estamos prontos para envelhecer, situação que exige cuidado e atenção de cada um de nós. Na enfermaria da Casa de Apoio tem cerca de cinqüenta camas, uma ao lado da outra, espalhadas por um grande espaço. Lá estão senhorinhas que passam por várias dificuldades físicas e psicológicas, dores de todas as vertentes. Contudo, confesso que a que mais me marcou foi a dor do abandono. Algumas assumem a angústia de terem sido deixadas ali, outras mentem para si mesma e para nós, seus ouvintes, com uma convicção esperançosa sobre os filhos que, um dia, irão buscá-las daquele local sagrado. Mais adiante, dentro do mesmo salão, pude observar algumas velhinhas com bonecas e fraldas, em verdadeiro regresso ao passado. Outras muito alegres, maquiadas, sorridentes... Muito bem tratadas, são cuidadas por profissionais que se intercalam entre uma e outra jornada, cuidando do corpo e buscando afagar a alma de quem recebeu de presente o abandono. Uma vez mais penso comigo: não estamos prontos para envelhecer! Em algumas culturas, o idoso é visto como sinônimo de sabedoria e experiência, em que o dever de respeito é corriqueiro, repassado por gerações. Aqui no Brasil, entretanto, observamos que quase nove milhões de lares brasileiros são mantidos por pessoas idosas, que representam a principal fonte de renda do núcleo familiar. É possível, a partir de análises estatísticas de casuísticas criminais, verificar também que aumentou - de forma considerável - o número de violência contra o idoso, sendo as principais a negligência, a violência psicológica, o abuso financeiro/econômico, a violência física e sexual e a discriminação. Nessa concepção, o idoso passa a ser aquele que sustenta o núcleo familiar, não obstante tenha sido tratado de modo inversamente proporcional, como um insustentável peso. E todos os dias, diuturnamente, nos deparamos com esses tipos de violência perto de nós, seja no transporte, na saúde, na acessibilidade, mas principalmente em casa, onde o tratamento, muitas vezes, é frio, grosseiro e indelicado. Duvido que não conheçam alguém que, em idade avançada, passa por privações decorrentes, acima de tudo, da falta de amor de filhos e parentes próximos. As pessoas se esquecem que a vida é um ciclo que todos nós iremos passar. Por mais que se possa pontuar, ainda que exclusivamente sob o aspecto legal, um limite de idade para que possamos ingressar nessa categoria de ser considerado idoso, temos que refletir sobre a ausência de algo que possa, de forma universal, estancar as vicissitudes do problema. Tudo, assim, está a depender da conjuntura biológica, emocional e psicológica, enfim de uma série de fatores. Temos idosos com uma carga cultural e uma experiência de vida invejável, pessoas dinâmicas, independentes, que têm um fulgor e um entusiasmo que fazem muitos jovens ficarem para trás. Mas temos também aqueles que são frágeis, dependentes, delicados, doentes... E todos eles precisam, não raras vezes, de muito pouco. De algo que deveria ser ofertado em abundancia e gratuitamente na natureza: carinho, amor, atenção, cuidado... Diante da reforma da Previdência, em que se discute o aumento da idade mínima para recebimento de benefícios variados, devemos tratar o tema com muito mais cuidado. É preciso debater políticas públicas de prevenção a eventuais gastos desnecessários, sem olvidar de uma imprescindível atenção especial aos nossos idosos. Estamos, todos, a envelhecer! É um curso de águas que jamais volta atrás! Voltando ao Lar das Velhinhas, observo que lá há aquelas que precisam de sua ajuda, fraldas, comida, roupas, remédios... E também de sua visita, da sua alegria, do seu carinho, de sua atenção. Esse é apenas um exemplo que se deu comigo. Poderia aqui citar inúmeros outros espaços destinados a acolher seres humanos que, tais quais bichos, são abandonados em praças públicas. Precisamos fazer mais. Publicamente, reconheço a minha omissão com relação ao meu próximo. Sai do Lar das Velhinhas e a primeira coisa que fiz foi telefonar para minha mãe, mulher forte, guerreira, que não consigo enxergar como idosa de jeito nenhum. Comentei sobre o que vi, das pessoas que conversei, e do outro lado da linha ela me lembrou: Meu filho, todos nós somos sujeitos a intempéries. É por isso que devemos viver baseados no amor, valorizar o hoje, as pessoas, a família, os momentos, os sonhos. Rezar para que ao chegar na velhice aqueles que cuidamos possam nos valorizar e também cuidar de nós. Arrematou a conversa com uma sapiência e segurança dignas de uma senhora de seus sessenta e poucos anos, verbalizando tudo aquilo que eu estava pensando: não estamos preparados para envelhecer. Minha mãe, meu pai, sozinhos vocês jamais ficarão! (*) Delegado de Polícia Federal e Professor da Academia Nacional de Polícia

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