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Mensagem: Sobre um cartão de visita Manoel Hygino Há poucos dias, perguntava aqui como será o Rio de Janeiro em 2065, quando completa cinco séculos. Certamente é extremamente difícil adivinhar o futuro de nossas cidades maiores, diante da vertiginosa transformação pelas quais passam. A vida da e nas megalópoles sofrem mudanças rapidíssimas, e elas nem sempre são para melhor. Os que se transferiram para as capitais sofrem hoje as decepções, quando não o horror pelos tempos tenebrosos de agora. Lamentavelmente, os governos pouco se preocuparam com a evolução das suas sedes. Nelas, aliás, concentram-se, sobretudo em sua periferia, áreas de degradação, porque reiteradamente não é dada a seus habitantes a oportunidade de sobreviver com dignidade. O que as famílias pensaram usufruir ao deixarem suas casas ou casebres no interior falhou. Uma habitação aprazível, o sonho de encaminhar os filhos a mais promissores tipos e patamares de progresso social e pessoal, tudo rui quando se aporta e se instala na urbe. Tem-se de esperar o benefício de programas da casa própria: que demoram porque milhões enfrentam o mesmo problema, a administração cuida de outros planos e projetos, os recursos financeiros são insuficientes. Uma saúde efetiva e segurança eficaz condizentes com as necessidades da população faltem: eis a dura realidade enfim. No caso específico da Cidade Maravilhosa, que aniversariou no último dia 20, mais sentem os brasileiros que se acostumaram a vê-la bela, fulgurante, com o fascínio de épocas idas e vividas. Para lá, inúmeros se transportaram e lá permaneceram, porque lá era o centro da cultura, das letras e das artes, da política e da vida social. A cidade se revelara um cartão de visitas. Digo-o com satisfação, eu que lá também atuei nas velhas máquinas datilográficas das redações. Nas oficinas, a grande novidade era o linotipo. Edmar Morel, um dos grandes repórteres dos diários cariocas de maior prestígio, recorda os anos 1940–1950: “O Rio era uma cidade admirável, com aspectos típicos de uma capital europeia. Os cafés tinham mesas nas calçadas, e ônibus de dois andares, chamados ‘chope-duplo’, faziam ponto no Clube Naval. Os cassinos da Urca e Atlântico estavam em pleno funcionamento. Os quiosques nas praças vendiam flores. Havia o footing aos sábados na avenida Rio Branco, as casas de chá sempre cheias, intensa era a vida cultural e social. Enfim, dava gosto viver no Rio. Ruas arborizadas eram viveiros naturais de pardais com suas sinfonias ao cair da noite”. O Rio de Janeiro se alegrava com revistas musicais na Praça Tiradentes, que atraíam as mais importantes figuras da política. Vargas ia lá e se encantou com a vedete Virgínia Lane. Na Cinelândia, os numerosos bares seduziam os intelectuais e jornalistas para apreciar o chope, na tarde cálida, no Amarelinho ou no Vermelhinho, junto à ABI, que conclamava a esquerda a suas mesas, para discutir a salvação do mundo.
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