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Mensagem: AGOSTO, AGORA SEM ZANZA Isaías Caldeira Veloso Vim da roça em 1968, lá do Gorutuba, longe, longe. E o trajeto até Janaúba era feito de carro de bois, durando um dia inteiro. Depois, pegava o trem para Montes Claros. Lento, quase como o transporte no percurso anterior. Nas paradas, em terminais ao longo do trajeto, gente, bichos e malas eram acomodados. Ninguém tinha pressa. A vida era devagar. Vim para estudar. Morava na casa de minha tia Negrinha (Maria de Jesus), na Rua Teófilo Otôni, n.º 50, no Bairro Roxo Verde. Ali, a cem metros da linha férrea. Rua de cascalho, de saudosas “peladas”, onde aprendi a jogar bola e a curar feridas na cabeça do dedão do pé, lacerada por alguma pedra, com a junção de urina própria e terra. Resistência orgânica de verdade, feita desses emplastros naturais, que se não matassem, nos guardariam de todos os males para sempre. Amém. Daí, o enfrentamento de doenças tantas, desde sarampo até a peste chinesa, sem grandes sobressaltos. A vida tranquila de então só era alterada quando se aproximava o mês de agosto. Ao lado da nossa casa, morava o Sr. José Aristides, um homem gentil, trabalhador na Central do Brasil. Era muito querido por todos. Todos os anos sua casa era tomada pelos Catopês, que ele coordenava. E o barulho de tambores e cantorias enchia a rua. Na mesma rua, na esquina, a poucos metros, o Sr. Aníbal coordenava a Marujada. Tudo era tomado por gente e fitas, tambores e músicas, espadas, guerreiros em batalhas lúdicas. E a meninada acompanhando os ensaios. A formação do povo brasileiro simbolizada naqueles festejos – brancos, índios e negros. Não éramos divididos por ideologias. Somente brasileiros, todos. Que tempo bom! Na verdade, naquele tempo achávamos tão naturais aquelas manifestações folclóricas que nem dávamos a importância merecida. No dia da festa, em agosto, todos os marujos e catopês, mais Caboclinhos, reuniam-se, desfilando pelas ruas poeirentas de Montes Claros, em homenagem ao Divino, São Benedito e Nossa Senhora do Rosário. Não havia patrocínio público. Tudo feito com esforço pessoal dos festeiros, especialmente dos Mestres, que eram os coordenadores. Veio o tempo com suas tenazes. Morreram Aníbal e Zé Aristides, há décadas. Mestre Zanza manteve a tradição, junto a outros. Houve reconhecimento público deste patrimônio cultural da cidade, enfim. A Marujada, Catopês e Caboclinhos continuam enfeitando e alegrando o mês de agosto na nossa cidade. Agora, com o passamento de Mestre Zanza, que seu trabalho e dedicação sejam heranças permanentes de outros festeiros, mantendo viva a memória. Não apenas dele, mas de todos os que, como ele, guardaram a tradição até estes tempos. Descanse em paz, Mestre Zanza! Aqui, o barulho dos tambores, em agosto, vai certificar sua pessoa e seu legado, “ad perpetuam rei memoriam”.
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