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Mensagem: O sacrifício de Elza Manoel Hygino Realizou-se, em Belo Horizonte, em novembro, a 17ª edição do Festival Teatro em Movimento, apresentando no Brasil Vallourec, o musical “Elza”, que resgata os maiores sucessos em mais de seis décadas de carreira da cantora Elza Soares. Um espetáculo vívido, particularmente atraente para quem gosta de samba e acompanha a vida da popular intérprete. A Elza, que ora me desperta da memória, contudo, é a Elza Fernandes, garota de 16 anos, família humilde, de quem se aproximou o baiano Antônio Maciel Bonfim, conhecido também por Américo ou Adalberto Fernandes, ou ainda Miranda, apelido que lhe davam os comunistas brasileiros, ou ainda Queiroz ou Keiro entre os camaradas soviéticos. Era a segunda década do século XX, com o Brasil dividido entre comunistas e fascistas, até personalidades de governo. Logo veio a guerra, acrescentando ao quadro político internacional o Reino Unido, a França e, finalmente, os Estados Unidos. Os comunistas se achavam com a corda toda por aqui, erro que levou ao fracasso da chamada Intentona de 1935. Miranda era bom de bico, como por aqui se diz, mesmo simpático, “de grande loquacidade”, como o definia William Waak. Falava francês, impressionava, mas não merecia integral confiança. Elza se chamava, de fato, Elvira Cupelo Colônio, sempre alegre, ria muito, contava casos, inclusive fazia visitas em nome de companheiros, ora para recados, ora para buscar dinheiro para o partido, conforme conta Maria Werneck, em “Sala 4”, um livrinho de lembranças. Em depoimento à polícia, Miranda, ex-secretário do PCB, conta que conhecera Elza ainda menina, 13 para 14 anos, em Sorocaba, cuidando da casa da família, em meio a muitas privações. Os pais, napolitanos, já tinham morrido, deixaram filhos, e nove ainda viviam. Duas irmãs faleceram por tuberculose, os irmãos remanescentes não se prestavam a serviços domésticos. Embora não comunista, Elvira ou Elza sofreu prisão por suas relações com Miranda e pelo relacionamento com os camaradas. Pelo seu envolvimento sentimental com Miranda, um dos chefões do PCB, por suas ligações com homens e mulheres, de vária formação, inclusive ideológica, Elza acabou por viver sob suspeita de trair os companheiros. Como disse Sérgio Rodrigues (nascido em Muriaé, atuante na imprensa paulistana e autor do romance “Elza, a garota”), a jovem se tornou alvo no meio revolucionário. Indefesa, de uma ingenuidade desconcertante, depois de ter sido “julgada” por comunistas, foi estrangulada covardemente com uma cordinha de varal, e o corpo enterrado no quintal de uma casa de subúrbio carioca, como relata Carlos Herculano Lopes. O crime ganhou os jornais, alcançou rumos inesperados, envolvendo altas autoridades, peritos, gente de toda espécie. Nas tentativas de apuração sobre possível traição, Miranda também foi vítima de terríveis torturas pela polícia. Um certo Matoso, jornalista ligado ao partido, conta que “a Elza padeceu três dias de surras tremendas. Nua, os tiras torciam-lhe os seios. Não lhe arrancaram nem uma palavra. Grande bravura”. A verdade verdadeira é que Elza perdeu a vida após tormentos e sevícia. Acusado de ter determinado sua morte, Prestes saiu pela tangente: “eu não mandei matar Elza. O que ocorreu foi que a polícia ligou a morte dela com a carta minha, escrita antes de ser preso, em que eu recomendava a punição para os traidores. Quem mandou matar Elza foi o partido”.
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