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Mensagem: Aventura de viver Manoel Hygino O dia de Natal é muito especialmente significativo para o mundo, mesmo o não cristão. Vê-se que, em todas as nações praticamente, faz-se uma pausa para festejar a esperança de dias melhores, de mais amor e paz. Mas também serve para que se extraiam lembranças e meditações sobre os anos já vividos, nem só de alegria e êxitos. Ao receber o livro de Palmyra Santos Oliveira (Montes Claros, Porteirinha e outros amores meus...) não esperava um reencontro tão caloroso com a cidade em que nasci e com meditação tão afetiva, como aconteceu. A autora, conterrânea, que passou um período tão longo já transcorrido nas duas cidades, estudou na maior delas, ali fez o curso normal e outros, foi professora e diretora de escola e se dá ao prazeroso luxo de recordar – que é viver de novo. No entanto, o volume tem muito mais conteúdo do que se poderia pensar, além de fotografias, que diria históricas, embora despretensiosas. Até a do Cine Montes Claros, da minha infância. Lá por 1926, José Gomes de Oliveira, irmão da autora, quis assistir a um filme, é claro. O proprietário do estabelecimento não o permitiu, porque o pretenso espectador tinha apenas 10 anos. O pai da criança não titubeou: associou-se a Aristides Lucrécio, seu amigo, abriram uma firma, adquiriram o cinema e, logo, para a estreia, a meninada pôde ver uma “fita”, sem restrições; uma noite, houve distribuição de brindes, como caixas de pó de arroz, brincos e anéis. Cinema mudo, instrumentistas acompanhavam o enredo com músicas românticas, nos filmes de amor, e nas cenas de tiroteio, com melodias mais rápidas. Pelo que se observa, atravessava-se época mais amável, embora haja registros de assassinatos nas ruas. Meros registros, porque o mais trágico ficou para descrição de outros escritores. A dinâmica D. Palmyra foi-se adaptando aos novos dias e se inserindo em novas atividades na Academia Feminina de Letras e no Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, para gáudio dos confrades e confreiras. Na abertura de seu livro, ela o dedica “aos meus onze filhos, que criei com muito amor e, por causa dos trabalhos, não os acariciei tanto como queria”. O marido tinha um caminhão que ele próprio fabricara, usando peças de dois anteriores, já imprestáveis. A família cumpria, como de costume, a romaria até à cidade a Bom Jesus da Lapa, já na Bahia. Uma aventura sem tamanho, e se considerar a estrada de terra, em más condições. Os romeiros iam na carroceria, com bancadas de madeira. “Para não tomar muito sol durante a viagem, as pessoas usavam chapéus de palha de aba larga. Parávamos para fazer o almoço e, à tarde, onde parávamos para fazer o jantar, já era no lugar da pousada para dormir. Carregávamos os utensílios de cozinha, comestíveis, paçoca de carne de sol, roupas de cama, colchões, esteiras, travesseiros etc. As vezes dormíamos duas noites na estrada. Uma das vezes chegamos à Lapa e meu marido, muito cansado, alugou uma casa com muitos quartos. Ficamos na sala e ele queria dormir, mas D. Etelvina em um quarto e o Sr. Zeferino Teixeira em outro não paravam de conversar, embora meu marido pedisse silêncio. Como eles não paravam a conversa, Iozinho levantou e disse: “eu não posso dormir, porque vocês não param de conversar. Vamos embora!”. D. Palmyra completa 100 anos em 2 de abril de 2020. Será uma festa.
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