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Mensagem: Quem paga pela vida Manoel Hygino Eduardo Frieiro é um dos notáveis das letras em Minas, um dos seus grandes pesquisadores e historiador por nascimento e vocação. Membro da Academia Mineira de Letras, deixou sua magnífica biblioteca ao sodalício, ora instalado na rua da Bahia. Quem quiser melhor conhecer o atual Estado e a velha província, não poderá deixar de recorrer a sua preciosa produção. Foi um autor severo na crítica, mas cônscio de sua responsabilidade perante a própria história. Ele não teve medo de expor suas ideias. No que se refere à nossa riqueza, ele a contesta com veemência: “Uma das patranhas da nossa história, tal como usualmente se conta nas escolas, é a da pretendida opulência das Minas Gerais na época da abundância do ouro. Em boa e pura verdade, nunca houve a tão propalada riqueza, a não ser na fantasia amplificadora de escritores inclinados às hipérboles românticas”. A propósito, aconselha-se também a leitura de outros autores, menos afeitos à fulguração da lenda sobre a velha capital e o território, que Frieiro julga “muito lindo para os que se nutrem de belas fábulas”. Rude sua opinião: “A realidade foi bem diversa. Nem riquezas, nem grandezas. Apenas o atraso econômico e a pobreza, como herança num desvairamento fugaz, próprio de todas as Califórnias. O ouro, farto, que borbotava em fabulosa abundância, se foi esgotando e havia razão para isso. Eram milhares os aventureiros que chegavam de todas as regiões da colônia, mesmo da Europa, além dos escravos que para aqui eram trazidos para exploração do prodigioso mineral”. “Do Brasil e do Reino, vinham ininterruptamente muitos milhares, todos movidos por um só pensamento: enriquecer depressa e regressar às suas terras de origem”. Mas havia o outro lado da situação: ninguém plantava, nem criava, nem produzia. Para que o sacrifício? Os ganhos sopitavam da terra e sobre ela se encontrava o suficiente para o luxo, mantendo a corte ou capaz de saciar as exigências dos que entre nós já se tinham estabelecido. Como não poderia deixar de ser, provocou-se a elevação de todos os preços. A carestia de vida, que caracterizou determinados momentos das cidades hoje históricas. Frieiro indaga: “Que se apurou, afinal, de tanta fartura, capaz de aplacar a mais veemente auricárdia? Nada mais que uma crise de calamidades- anarquia, desordens, violências miséria e fome”. Aliás, esse quadro é focalizado ainda pelo sábio Antonil, que minuciosamente o descreve em livro. Repito, contudo, Eduardo Frieiro: “Desfeita a miragem do ouro, a região das Minas Gerais abismou-se num estado de miséria de que ainda agora não acabou totalmente de sair”. O ouro fácil, superabundante, se findou. Ficaram algumas grutas com restos ou minas a serem aproveitadas por empresas estrangeiras bem à frente do tempo. Fazer o quê? O mundo mudara. Os anseios e necessidades já eram outros. Assim, surgiu a oportunidade para o minério de ferro, que suscitou a cobiça das grandes companhias e conglomerados. O sentimento de hoje, depois dos dramáticos acontecimentos de Mariana, onde estava o Fundão, e de Brumadinho, é de consternação, indignação e dor. Minas tem medo; a população mal dorme - se dorme. As sirenes podem soar a qualquer hora, milhares se preparam para fugir do caos. Quem pagará pelo prejuízo de milhares de pessoas e pela própria vida? O poder público ou as empresas?
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