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Mensagem: Os desvios de recursos Manoel Hygino Parecia combinado: o excelente artigo ou ensaio de Letícia Malard no volume “Estudos sobre Belo Horizonte e Minas Gerais”, nos 30 anos do BDMG Cultural, organizado por Eliana de Freitas Dutra e Caio César Boschi, ambos com nomes e títulos que dispensam apresentação. Quanto a Letícia, é professora emérita da Faculdade de Letras da UFMG, além de doutora em literatura brasileira pela mesma universidade, atuando nas áreas de teoria da literatura e literatura comparada. Aliaram-se os esforços para publicar algo que diz muito de perto ao interesse e ao momento vivido por Minas, após as tragédias em dois municípios da região da velha província. A autora começa por lembrar que, exatamente em 1718, construiu-se a capela de São Bento, no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, cuja destruição deixou um rastro de saudade e indignação em todo o país, desde o fatídico novembro que causou 19 mortes e a ruína total da área habitada. É fato recente. Letícia, ainda no primeiro parágrafo, registra que arqueólogos holandeses conseguiram retirar o barro do monumento histórico, após o caos. “Começou-se pelo ouro e acabou-se com o minério”. Depois, seria a vez de Brumadinho, em 25 de janeiro de 2019, com apenas rejeitos de minério de ferro. O atual Estado de Minas Gerais foi criado em 1720, quando a Capitania de São Paulo e Minas de Ouro se desmembrou. Nasceu assim a nossa Capitania, em ano que permitiu o transporte, da Colônia a Lisboa, de 25 mil quilos de ouro. A chegada da riqueza a Portugal serviu para entusiasmar os lusos e para incentivar novos projetos no lado de cá do Atlântico. Uma vasta correspondência foi trocada, inclusive entre o soberano e o conterrâneo, D. Lourenço de Almeida, escolhido governador por dom João V. Ele se transferiu de Pernambuco mas tinha parentes importantes na corte. São documentos preciosos existentes no Arquivo Público Mineiro e reveladores do que acontecia nos bastidores, não apenas ligados a negócios. A professora recorda, a propósito que, por volta de 1728, o soberano queria que o papa nomeasse para núncio apostólico em Lisboa determinado religioso, fazendo-o antes cardeal, mas o pontífice decepcionou e nomeou outro. Resultado: “o rei, freirático, mas também beato, que alocava recursos fabulosos na igreja como um todo, e buscava naus de transporte do Vaticano para a China, fechou a nunciatura em Lisboa, ordenou a volta dos portugueses residentes em Roma e proibiu todos os seus vassalos de se relacionarem diretamente com a Santa Sé. Quando veio novo papa, o rei João V teve realizado seu desejo, pois seu protegido foi nomeado núncio em Lisboa”. Enorme a variedade no teor das cartas. Mas, pode-se afirmar que a temática subjacente tem caráter garantista: controlar e policiar ao máximo a exploração do ouro e das pedras preciosas, para impedir motins, desvios, sabotagens, mistura com areia e esmeril, furto na pesagem, contrabando, negociatas dos dízimos, além de tudo mais que na capitania se fazia, mas continuava apesar de tudo. A professora quase no final de seu texto observa: “à exploração de ouro e pedras, com um intervalo e de suspeitos, seguiu-se a exploração do minério de ferro, que permanece até os nossos dias. O resultado está aí, aos olhos de todos: tragédias anunciando novas tragédias”.
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