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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 15 de novembro de 2024
 

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Mensagem: O novo ano da fumaça Manoel Hygino Os dias excessivamente frígidos de julho não foram os primeiros na crônica mineira. As noites se estenderam pelas horas das manhãs seguintes. Apanharam-se os agasalhos nos guarda-roupas e os cobertores nos armários para mitigar o desconforto das baixas temperaturas e o vento às vezes uivantes das longas madrugadas. O espetáculo do dia assaz preguiçoso em luz e calor solares lembraria o Ano da Fumaça, cuja notícia nem sempre é encontrada em compêndios escolares. A espessa neblina que, então, tomou conta de grandes regiões e atingiu o sertão além das veredas, adoeceu muitos e assustou os supersticiosos. A ameaça vinha da natureza, esse tempo escuro, até de tremura, prenúncio de amarguras. Na capital federal, impenitentes debates, agressividade às vezes, igualmente lembrariam o Ano da Fumaça, que desceu sobre as Minas e as Gerais em 1833, a partir de março. Naquele dia, mês e ano, um grupo político da província, alcunhado de caramuru ou restaurador, tomou o poder em Ouro Preto, a capital, destituindo o presidente Melo e Sousa, e seu vice Bernardo Pereira de Vasconcelos e baixando medidas drásticas. A revolta do Ano da Fumaça se alongou até 23 de maio, com o governo intruso instalado em Vila Rica. Admitia-se que o grupo pretendesse a volta de Pedro I à Coroa, após a abdicação de 7 de abril de 1831. Podia... São João del-Rei se tornou a capital de Minas, por dois meses, sob Vasconcelos e Melo e Sousa. Naquela primeira metade do século XIX, diz Marcos Ferreira de Andrade, “o império brasileiro atravessava um período de instabilidade política, de mudanças e aprovações de novas leis e códigos que interferiam na relação das províncias com o poder central, além das disputas entre os grupamentos políticos com seus respectivos projetos de nação, ainda em debate e construção”. Mutatis mutandis, os fatos se repetem 184 anos após. Não mais o “império brasileiro”, sim a república proclamada em 1889, mas também o Brasil de 2017, que atravessa “um período de instabilidade política, de mudanças e aprovação de novas leis e códigos...”. Eis aí apenas minguada parte do problema que a nação atravessa, com o cidadão não entendendo exatamente o que acontece e o pior – o que tem pela frente. Não há dúvida de que se trata do “maior escândalo de corrupção de todos os tempos”, como divulgou, em junho passado, o “The Guardian”, em Londres. Perdemos o senso crítico, a ética anda rasteira, lá no pântano, confundindo os brasileiros, que sonham com dias honestos e mais felizes, amando com fé e orgulho a terra em que nascemos. Por agora, vivemos o novo ano da fumaça até no caráter. Para o periódico da capital britânica, quer-se “políticos mais limpos e respeitadores da lei”, mas não só os políticos, evidentemente. Dos dias atuais no Brasil, poder-se-ia dizer que se assemelham à Síria, atormentada pela guerra que soma anos e já deixou cerca de 500 mil mortos. Aqui, não há perspectiva de paz, sequer de trégua, tamanho o caos no qual desembarcamos. Os grandes culpados se dizem inocentes, nos muitos partidos ou fora deles. Não há pessimismo, mas o futuro, a pequeno e médio prazos é incerto e desfavorável. Quem viver, confirmará.

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