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Mensagem: O calor asfixiante de Brasília Manoel Hygino Houve antes crime da mala, inclusive levado ao cinema brasileiro. O excelente repórter Edmar Morel, que trabalhou na imprensa carioca por muitos anos, quando morava em Fortaleza, ainda criança viu dois filmes sobre o tema que o impressionaram. Um deles, ‘O crime da mala’, mostrando como Maria Fea foi esquartejada pelo marido José Pistone, em São Paulo. No caso, o assassino andou carregando a mala, de que gotejava sangue, ao andar de coletivo. Outro homicídio envolveu Maria da Conceição, em São Luís (MA), 16 anos, filha de Luzia, mulher de pobres condições. Pela jovem se apaixonou o desembargador Pontes Visgueiro, que – sabedor de que a moça mantinha amante – matou-a, colocou-a num baú, enterrou no fundo da casa, mas finalmente foi encontrado o corpo. O réu foi transferido do Maranhão ao Rio de Janeiro para evitar reações populares. Em 16 de maio de 1874, a sentença: prisão perpétua com trabalho. Durou pouco a prisão, pois o magistrado faleceu em meados do ano seguinte. Mas eis que surge, em pleno século XXI, uma outra mala e um outro crime que ora incomoda o país, evidentemente, pela natureza e origem do conteúdo, altos escalões políticos do Brasil. Não precisaria dizer, mas se trata de mala, que continha (ou deveria conter) R$ 500 mil, carregada por um suplente de deputado federal pelo Paraná, Rodrigo Rocha Loures. O simples transporte da mala virou acontecimento de repercussão nacional. Explica-se: a fortuna em questão teria origem espúria, pois resultaria de propina doada por um poderoso conglomerado agropecuário brasileiro, o maior do mundo no gênero. A situação se tornou dramática, quando se soube que o presidente da República tivera uma reunião na calada da noite, no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente, ora chefe do governo, com o responsável maior pelo grandioso empreendimento industrial. Simultaneamente, todos os brasileiros interessados tomaram conhecimento das relações de amizade entre o presidente e o deputado, que intermediara, a bom preço, a reunião noturna no Jaburu, cujo teor foi inteiramente gravado pelo esperto empresário Joesley Batista. O dinheiro foi entregue a menos, mas a diferença faltante foi coberta pelo parlamentar paranaense, tudo já necessariamente acertado com Temer, e filmado pela Polícia Federal, que não está dando folga. Sabido, Joesley precisou de uma segunda entrevista com Temer, recorrendo mais uma vez aos bons préstimos do parlamentar, “político com influência no cenário nacional, até pouco tempo assessor do presidente Michel Temer, pessoa de sua mais estrita confiança”, segundo palavras do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal e relator ali da Operação Lava Jato. Diante dos fatos, Fachin, afiado facão em suas medidas, determinou a prisão do deputado Loures, atendendo a pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Aliás, a dupla Fachin-Janot está bem sintonizada. O ministro considera que Loures usa de “métodos nefastos” para seus propósitos e que, em liberdade, constitui “um risco para a investigação”. Para Janot, o deputado é “homem de total confiança, verdadeiro longa manus do presidente, expressão explorada pelos jornais, significando “executor de crime premeditado por outro”. Loures está preso desde o último sábado e a capital trepida.
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