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Mensagem: Carta para minha mãe Elvira Alberto Sena Mãe. Oh, mãe, a sua partida faz 32 anos. Foi no dia dedicado às Mães. Sei muito bem mãe, ninguém vai embora antes da hora. Mas choro. Choro, não de dor, mas de emoção porque, afinal, tenho coração sensível, e por mais incrível possa parecer, não lamento a sua partida, tenho siso, herança sua. O Brasil e o mundo como estão, em turbulência, a senhora teria dificuldades para aceitá-los, aos 105 anos de idade, se conosco ainda estivesse. Sei, a senhora está bem. E isto é o mais importante. Seria uma demonstração de egoísmo de minha parte querer a sua presença física se eu posso rever, de olhos fechados, e o coração aos borbotões, as lembranças boas dos nossos tempos vividos. Prefiro me realimentar de recordações. Elementar seria não praticar os seus ensinamentos e os exemplos de mulher vibrante, firme, enérgica, de coração transbordante de alegria. Neste momento terno, eterno, me recordo, com emoção, de quando, junto ao fogão a lenha, enquanto fazia o almoço, eu ainda criança ouvia, para o meu encanto, o seu canto: “Índia teus cabelos nos ombros caídos/ Negros como a noite que não tem luar/ Teus lábios de rosa para mim sorrindo/ E a doce meiguice deste teu olhar/... Não se sinta incomodada comigo. Com nenhum dos irmãos. Aqui, neste plano de vida, estamos bem – todos os seus filhos vivos. Cada um com as suas particularidades, como bem a senhora sabe, melhor do que eu. Como se diz por aqui, “mãe é mãe”. Conhece as dificuldades e as alegrias só de olhar o semblante de cada um dos filhos e filhas. No meu caso particular, oh mãe, mantenho íntegro o espírito de criança, e é este mesmo espírito de criança que neste momento dança entre as nossas lembranças. Agradeço a Deus por ter nascido filho seu. E agradeço-lhe por ser a minha mãe querida. Peço-lhe licença, neste momento sublime, o coração transbordando em lágrimas, para terminar esta carta cantando para a senhora a composição de José Marcelo de Andrade, que tanto lhe agradava, eternizada pela cantora lírica Maria Lúcia Godoy: “Elvira escuta os meus gemidos/ Que aos teus ouvidos irão chegar/...”
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