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Mensagem: Nos olhos da minha mãe Alberto Sena Vi a morte da minha mãe chegando aos olhos dela. Foi uns dois dias antes de ela morrer. Sentada em um sofá individual, na sala, ela mantinha os braços apoiados dos lados. Tinha o olhar fixo em um ponto. Não parecia triste nem alegre. Contemplativo. Era como uma estrela em processo de oclusão depois de cumprir a missão divina de brilhar. O sorriso dela já não era o mesmo sorriso de antes. Sorriso aberto de dentes alvos. Ela e o irmão dela, Abel, tinham sorriso largo. Aliás, todos da família dela davam risadas. Tia Ambrosina, irmã de mãe, era do mesmo jeito – tia Geraldinha e tio Severo também – quando havia motivo para tanto. Mas o tio Abel era o que gargalhava mais. Eu gostava de ver e ouvir as risadas dele. Sempre quando ele ia nos visitar, tinha alguma coisa engraçada para contar, uma piada, um causo. Mas, voltando à minha mãe. Ao depara-me com a morte chegando aos olhos dela fiquei em alerta. Pareceram-me opacos. Ela me deu a impressão de uma coisa ou outra: sentia algum mal estar, alguma dor e não queria esboçar, ou inconscientemente, sentia chegar a sua hora. Acho mais verdadeira a segunda hipótese. As pessoas crentes em Deus são avisadas com antecedência, certamente. No caso dela, ela se mantinha firme, serena. Claro, numa hora desta ocorre o fenômeno psicológico chamado “misoneísmo”, o medo do novo, do desconhecido. O semblante dela era de quem ia entrar por aquela porta para não mais voltar. “A Casa do meu Pai possui muitas moradas”, disse Jesus. Ninguém vai embora antes da hora. Nada acontece que não devia acontecer. Aconteceu? Não adianta empregar a partícula “se” – se tivesse feito isso ou aquilo... –, a não ser para corrigir algo que, aparentemente, pode ter acontecido devido a um erro ou negligência de alguém. O que para mim foi o caso da minha mãe. Nunca disse “perdi minha mãe”. Não. Eu a ganhei porque sei, ela vive e está em mãos de Deus. Vezes sem conta melhor do que se aqui estivesse. Ela ficaria espantada com os acontecimentos deste mundo, tamanha a desproporção em relação ao seu mundo, mãe de 11 filhos, sendo nove vivos. Eu sou o décimo na ordem de nascimento dos filhos de minha mãe, Elvira, e do meu pai, José, Zé Bitaca chamado.
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