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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 16 de novembro de 2024
 

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Mensagem: A GUERRA DE CIVILIZAÇÕES DO SÉCULO XXI * Marcelo Eduardo Freitas Em janeiro deste ano de 2017, o presidente dos EUA, Donald Trump, adotou uma série de medidas cunhadas com o propósito de “proteger o povo norte-americano de ataques de estrangeiros admitidos nos Estados Unidos´. Uma dessas medidas, foi a assinatura de uma ordem executiva, algo similar às nossas medidas provisórias, em que se determinou o fechamento temporário das fronteiras daquela nação aos imigrantes de sete países de maioria muçulmana e a refugiados de todo o mundo. Numa entrevista ao canal Christian Broadcasting Network, Trump disse que dará prioridade na solicitação de refúgio a cristãos de origem síria. A preferência aos cristãos e a exclusão dos muçulmanos, como se evidencia, parece soar como uma medida manifestamente discriminatória, contrária aos valores constitucionais americanos e a diversos tratados internacionais de Direitos Humanos. Reforçada por esses ideais excludentes, assim, estamos a assistir passivamente à primeira guerra de civilizações do século XXI. Como se observa, o pano de fundo não é novo: a disputa Islamismo x Religiões Judaico-Cristãs, em uma situação de evidente “pós-verdade”, a fim de reconquistar o mundo perdido, isto é, a qualidade de vida do povo norte americano, pouco importando o preço a ser pago. A História é uma das ciências mais fantásticas com as quais podemos lidar. Conhecê-la faz com que não ingressemos em terrenos arenosos, de onde não poderemos sair. Em apertada síntese, as 3 grandes religiões monoteístas - cristianismo, judaísmo e islamismo - sempre pregaram a paz, a tolerância, a compaixão e o amor ao próximo. Mesmo assim, todas elas, sem exceção, deixaram suas marcas em guerras e banhos de sangue ao longo da trajetória da humanidade. Foi assim com os judeus, os primeiros monoteístas, que reivindicaram uma aliança especial com Deus há 4 mil anos. Já no século 4, os patriarcas católicos qualificaram os seguidores do judaísmo de filhos do diabo e inimigos da raça humana. No século 7, de igual maneira, foi a vez do islã tentar impor a primazia de seu Deus sobre os demais. O que quero aqui apresentar, deste modo, é no sentido de que, em toda a história, o comércio da fé sempre matou inocentes. Por vezes, interesses manifestamente econômicos estavam ocultos atrás daquilo que apregoavam as religiões monoteístas. Vou retroceder apenas ao século XX, a fim de não sermos cansativos e ultrapassarmos o espaço previsto para esta explanação. O século XX viu crescer uma devoção militante nas principais religiões, chamada popularmente de fundamentalismo. Abaixo, citarei apenas 04 “disputas religiosas” que, juntas, levaram ao genocídio de mais de 610 mil pessoas. CONFLITO 1: Judeus x Muçulmanos; onde: Oriente Médio; quando: em curso desde 1947; resultado: mais de 7,5 mil mortos de 2000 para cá. CONFLITO 2: Hindus x Muçulmanos; onde: Índia e Paquistão; quando: Fim da década de 1950; resultado: 500 mil mortos! CONFLITO 3: Católicos x Protestantes; onde: Irlanda do Norte; quando: décadas de 1960 a 1980; resultado: quase 4 mil mortos! CONFLITO 4: Cristãos x Muçulmanos; onde: Bálcãs; quando: Décadas de 1980 e 1990; resultado: Mais de 100 mil mortos! Registro, ainda, que o Holocausto, encabeçado por Adolf Hitler (também no século XX) foi executado no auge da sociedade que se dizia moderna e racional. Mas a força motriz do genocídio - o antissemitismo - se nutriu dos mitos religiosos arraigados durante séculos na Europa para, uma vez mais, promover o extermínio de seres humanos. Muito parecido com o que se prega hoje nos EUA. Vejo, desta maneira, com extrema preocupação as medidas defendidas pelo presidente norte-americano, Donald Trump, particularmente naquilo que se refere à segregação de pessoas, exclusivamente, pela religião que abraça ou segue. A nosso sentir, há evidentes interesses econômicos travestidos nas tais proibições, pouco importando a dignidade de pessoas que, como nós, deveriam ser livres em suas escolhas. Penso, as vezes de modo utópico, que a humanidade pode conviver de forma harmoniosa. Não sem dor, é claro. Mas se o custo da qualidade de vida depende do isolamento ou banimento de populações inteira, não vale a pena o preço a ser pago. Muito ainda veremos no decorrer dos próximos 04 anos, no mínimo. De minha parte, não apoiarei quaisquer medidas que, calcadas em pós-verdades, apregoam a desunião entre seres humanos que, em sua gênese, deveriam ser tratados como iguais. Precisamos ter muito cuidado com as ideologias que se buscam disseminar. Cristianismo, judaísmo ou islamismo pouco importa! A opção de cada um há de ser livre! O certo não deixará de ser certo por ser praticado por uma islamita! O errado também não deixará de assim o ser, ao ter sido praticado por um cristão! Sejamos sensatos! Não importa o rótulo! Somos, todos, filhos de um mesmo Pai! Jamais discrimine as pessoas pela opção religiosa adotada! (*) Delegado de Polícia Federal e Professor da Academia Nacional de Polícia

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