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Mensagem: A lenda do Pequizeiro Machado de Assis nos ensinou que “dá certo gosto deitar ao papel coisas que querem sair da cabeça, por via da memória ou da reflexão”, mas o mesmo Machado afirmou que “se a pessoa pega a escrever, não há papel que baste”, mas gosto de escrever. Seria o umbuzeiro “a árvore sagrada do sertão” no dizer insuspeito de Euclides da Cunha? Cuido que não. A árvore sagrado do sertão é o pequizeiro (Caryocar brasiliense). Não há dúvidas de que o umbuzeiro (Spondias tuberosa), que vegeta em terrenos mais férteis, resiste bem às “secas duradouras, sustentando-se nas quadras miseráveis mercê da energia vital que economiza nas estações benéficas das reservas guardadas em grande cópia nas raízes” (leia-se em grande quantidade nas raízes), mas o pequizeiro integra com abundância o conjunto das árvores frutíferas do cerrado, com um grande leque de utilidades. Quando ainda isolado era o sertão, a gordura de seus frutos era utilizada para fabricar sabão com decoada, coisas que vi na infância e na adolescência. Hoje, com o encurtamento das distâncias, ele, no período da safra (novembro a fevereiro), é alimento e produtor de riquezas, gerador de rendas. A preservação do pequizeiro já virou símbolo da luta contra a devastação do cerrado. O silvícola brasileiro, na riqueza de sua cultura bárbara, na busca da origem das coisas que o cercam, criou a lenda do pequizeiro, que Marieta Teles Machado nos conta (Os Frutos Dourados do Pequizeiro, Editora UCG, 1986). O guerreiro Maluá encantou-se com a beleza da índia Tainá-racan e casou-se com ela, prometendo amá-la enquanto vida tivesse. O tempo passou e eles não perceberam “quantas vezes a lua viajou pela arcada azul do céu, quantas vezes o sol veio e se escondeu na sua casa do horizonte”, sem que tivessem um filho. Passados três anos, em uma noite ela perguntou ao guerreiro: “Onde está nosso filho que Cananxiué não quer mandar?” Maluá alisou com carinho o ventre da formosa esposa. ´E o nosso filho não vem´, murmurou. “Um vento forte perpassou pela floresta. Uma nuvem escura cobriu a lua, que não mais tornava de prata as águas mansas do rio. Trovões reboaram ao longe”. Maluá envolveu Tainá-racan nos braços e amou-a. ´Nosso filho virá, sim. Cananxiué no-lo mandará´. Quando os ipês floriram nasceu Uadi, o Arco-Iris, um lindo garotinho. Mas Uadi era filho de Cananxiué e ele o veio buscar na forma de Andrerura, a arara vermelha, e o levou para os céus preso em suas garras. ”Tainá-racan encostou a fronte na terra, onde pouco antes pisavam os pezinhos encantados de Uadi. Chorou. Chorou. Chorou três dias e três noites. Então, Cananxiué se apiedou dela. Baixou à terra e disse: ´Das tuas lágrimas nascerá uma planta que se transformará numa árvore copada. Ela dará flores cheirosas que os veados, as capivaras e os lobos virão comer nas noites de luar. Depois, nascerão frutos. Dentro da casca verde, os frutos serão dourados como os cabelos de Uadi. Mas a semente será cheia de espinhos, como os espinhos da dor de teu coração de mãe. Seu aroma será tão tentador e inesquecível que aquele que provar do fruto e gostar, amá-lo-á para jamais o esquecer. Como também amará a terra que o produziu. Todos os anos, encherei, generosamente, sua copa de frutos, que os galhos se curvarão com a fartura. Ele se espalhará pelos campos, irá para a mesa dos pobres e dos ricos Quem estiver longe e não puder comê-lo sentirá uma saudade doida de seu aroma. Nenhum sabor o substituirá. Ele há de dourar todos os alimentos com que se misturar e, na mesa em que estiver, seu odor predominará sobre todos. Ele há de dourar também os licores, para a alegria da alma´. Tainá-racan sorriu. E o pequizeiro começou a brotar.
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