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Mensagem: ´Se os governadores não construirem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios´. Esta frase do montes-clarense Darcy Ribeiro, dita em 1982, inunda o Brasil como profecia cumprida, neste início de 2017, 35 anos depois de pronunciada. No início dos anos 80, Darcy, encerrado o amargo desterro, vinha muito a Montes Claros e seus contatos eram com a família e alguns amigos. Enquanto muitos evitavam demonstrar solidariedade, simpatia e admiração por um conterrâneo reconhecido no mundo e perseguido em seu país, pela última ditadura, uns poucos faziam questão de estar ao seu lado, arrostando os poderosos do momento. Desse tempo, há muito o que contar. Mas, o que quero dizer é que o nosso Darcy, encantado em 1997, se hoje voltasse a M. Claros (onde nasceu em 1922, no miolo da cidade, atual Rua Lafetá, entre Simeao Ribeiro e Altino de Freitas), Darcy teria duas grandes, enormes tristezas: 1 - Amputaram, mutilaram o conjunto arquitetônico da escola símbolo da cidade, a histórica Escola Normal, um projeto primoroso, de 1965. Mutilaram, para na sua esquina principal - defronte à casa/museu do mestre Konstantin - fazer funcionar...um posto de policia. Nada contra a honrada Policia e o seu trabalho em proveito geral, que merece aplausos. Mas, não custa admitir: recomenda-se converter presídios e assemelhados em escolas, e nunca, nunca, o contrário. Um erro histórico, descuido lamentável por parte de quem autorizou e permitiu, falha que em algum momento precisa ser reparada, para que não seja repetida - e frutifique. 2 - Darcy também ficaria profundamente consternado por não poder ver traço, vestígio de sua escola secundária - e esta escola não é a mutilada Escola Normal Oficial Plínio Ribeiro, nome do seu tio e mestre, e parte arrancada de nós, seus alunos. Darcy estudou no Ginásio Municipal, antes que as amplas instalações, com jardins, longos corredores, chalés e pátios se convertessem em Seminário Menor e, depois, em sede da Prefeitura. Sóbria construção na Avenida Coronel Prates. Ao lado da qual o sentimento da cidade, num belo gesto, quis e deliberou homenagear Reginaldo Ribeiro, dando à rua o nome do pai de Darcy, que ele pouco conheceu. Rua Reginaldo Ribeiro. Pois bem. Num tempo que merece ser esquecido, ´se revogado não pode ser´, numa manhã sem avisos, veio a tocaia. Derrubaram impiedosamente o extenso casarão que era parte do cerne da memória da cidade, um dos seus miradouros; almenara, digamos, pois a luz que dali partiu certamente vaga sem descanso, em perene reclamo de justa reparação. E era a escola de Darcy. Caiu, sem um lamento. Nenhum ai foi ouvido, enquanto as máquinas batiam contra suas paredes brancas, nuas, que resistiram. Havia acontecido antes com a Igreja do Rosario. Que também não recuou. Foi preciso um trator de esteira. Contra a Igreja dos Catopês - eu estava lá, vi. Sentiram muito, sentem muito, hão de sentir sempre, os que ali foram aprender. Ou os que ouviram misereres e ladainhas e responsos e laudamus que de lá partiam em cortejo de prelados nas alvoradas neblinosas de junho de um tempo que evanesceu. E que resiste - além do Bojador, com a noite antiquíssima do poeta. Um caixote baixou no seu lugar e um silêncio desceu aos alicerces profanados. Se hoje voltasse, Darcy teria o comportamento que teve ao tornar aos Morrinhos, depois que a ditadura última permitiu que reentrasse no seu país, doente, acreditando que vinha finar e, teimoso, não finou nem morreu. Nos Morrinhos, com um amigo, Darcy destampou com horrenda suspensa caixa dàgua de concreto afrontando a catita Igrejinha de Dona Germana e sua história, que o ministro Francisco Sá, outro montes-clarense (do Brejo das Almas), chamou de ´atalaia avançada dos povoados cristãos ´. Ao se deparar com a ofensa em concreto à Igrejinha indefesa, acuada na colina que é sua, o afável às vezes iracundo Darcy foi enfático: - Vamos embora. Não quero ver isto. Fomos embora, debaixo de um mesmo silêncio.
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