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Mensagem: DO PEQUI NADA SE PERDE Comi os primeiros pequis, hoje, no almoço. Huuummm... O meu organismo agradece. Todo ano, pequi e manga são duas coisas pedidas pelo cérebro e o corpo pedem. Inda mais sendo, como eu sou “filho de pequi” – foi meu pai que me ensinou a comer –, não posso de modo algum deixar de ingerir a vitamina “A” do pequi mais as vitaminas do complexo “B12”, os sais minerais e a gordura natural desse fruto conhecido no sertão norte mineiro como “carne do sertanejo”. É por demais importante saber roer o pequi. Há o roedor amador e o roedor profissional. Evidentemente, me coloco na categoria de “profissional” e quem se interessar em saber como é o profissional roedor de pequi, é o seguinte: quem rói o pequi e o faz mudar de amarelo para branco sem necessariamente atingir os espinhos. Costumo dizer, do pequi nada se perde. Até mesmo os espinhos podem espetar a língua de algum desavisado. Não deixa de exercer a sua função específica, embora já seja possível produzir pequi sem espinho. O que, particularmente, acho bom e não bom. Por que acabar com o meticuloso trabalho de alguém com uma pinça pinçar um por um os espinhos da vida na língua do roedor açodado? Quem conhece de pequi sabe, é um alimento completo. Dizem as bocas mais sensuais, o pequi é afrodisíaco. Nove meses depois da safra surgem os “filhos de pequi”. Meu caso. Numa contagem regressiva a partir de setembro são noves meses; certinho. E quem quiser saber se é ou não “filho de pequi”, basta fazer a mesma contagem. Neste momento alguém faz pausa para contar nos dedos. Aposto. Entretanto essa pretensa qualidade de ser afrodisíaco não existe. É fruto da mentalidade fértil de roedores contumazes para valorizar o fruto, considerado por mim e por milhares, bendito. O que há é o seguinte: no sertão, muitas das vezes o sertanejo passa alguma dificuldade de bem se alimentar e por via de consequência corre o risco de ficar fraquinho. Mas aí, aí, vem à safra de pequi, e ele enche o bucho e fica firme para arrotar a energia do indigitado. “Sacumé?” E tem mais. Acontece de famílias, parentes e amigos se reunirem para catar pequi à luz do luar – sim porque pequi a gente cata; no pé ele ainda não está bom. Cata aqui, cata acolá, surgem namoros, casamentos e até “ficâncias”. Então vêm as chusmas de pimpolhos. Não gosto de dizer isso não, mas a verdade deve ser dita: dei e reconheço isso, mesmo porque se eu não reconhecer talvez ninguém reconheça por mim porque não está escrito em lugar nenhum; dei grande contribuição para o surgimento da Lei que proíbe o abate de pequizeiro no território nacional. Quando repórter na capital, durante mais de duas décadas todo ano viajava pelo Norte de Minas a fim de produzir matérias sobre o pequi. Foram tantas as reportagens, até incomodar o então superintendente do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), atual Ibama (década de 80), salvo engano, porque passado tanto tempo, o nome dele seria Antônio Gonçalves. Ele me telefonou de Brasília dizendo: “Acabo de assinar uma portaria proibindo o abate de pequizeiro em todo o território, baseado nas suas reportagens”. Senti um arrepio. Finalmente aconteceu o que muitos de nós defensores do pequizeiro sempre buscamos. O pequizeiro posto no pedestal como o fruto mais importante do Cerrado. Cerrado que se vai minguando a cada ano devido ao fogo e a sanha do agronegócio. A portaria virou Lei com o passar do tempo. Entretanto não basta haver uma Lei se não houver fiscalização capaz de coibir os abates clandestinos. O importante é evitar e não só punir depois de pequizeiros tombarem em função da ganância dos empresários rurais. Entre os sertanejos há um acordo tácito de não abater pequizeiro. A árvore é linda. Paradoxalmente, delicadeza rústica. O tronco é protegido por uma espécie de cortiça, como soe acontece com a vegetação do Cerrado apropriada para se proteger dos rigores do Sol do sertão. As folhas são grossas expondo a beleza rústica da copa que se abre para receber as emanações cósmicas. Pra mim, o sabor do pequi vem do alto. É fundamental dizer sobre a procedência dos primeiros pequis grandes, avermelhados, saborosos que comi no almoço. Vieram do Mercado Central de Montes Claros. Montes Claros que não produz pequi, mas leva a fama. Como leva a fama de ter requeijão, de Salinas; e marmelada, de São João do Paraíso.
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