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Mensagem: AS DIMENSÕES DO TEMPO E A MAIOR DOR DO MUNDO * Marcelo Eduardo Freitas O tema, objeto desta loa à vida, é de uma complexidade incomensurável. Sem muita pretensão, buscaremos enfrentá-lo abordando as dores do corpo, sem olvidar, no entanto, daquelas que realmente têm atormentado o sono de milhões de pessoas ao redor do planeta: as dores da alma. À guisa de introdução, dor é uma experiência desagradável, provocada por diferentes motivos e com intensidades variáveis. Algumas, de tão fortes, nos causam até calafrios. Cada pessoa, sendo única, a recebe de uma maneira distinta. Há aqueles que esperneiam por um simples corte na mão. Outras há, no entanto, que suportam uma angina silenciosamente. Os seres humanos, de fato, somos um grande mistério! Todos nós já passamos por momentos em que acreditávamos estar diante da maior de todas as dores. Desde a boa e velha batida do dedinho na quina do móvel, ou a martelada na “cabeça do dedo”, arrancando-lhe a unha. O assunto é tão intrigante que até fizeram uma espécie de ranking. Estão entre aquelas consideradas de maior intensidade as seguintes dores: cólica renal, lombalgia aguda, rompimento de tendão, neurite herpética, hipertensão intracraniana, enxaqueca severa, apendicite, dor de dente, câncer, dor do parto, infarto, angina. Mas qual será a maior dor do mundo? Confesso que em minhas andanças dialoguei, ainda que indiretamente, com diversas pessoas sobre o assunto. Em todas, um ponto nos pareceu comum. Ultrapassada a fase aguda, com a diminuição dar dor, há um certo alívio. Há, no entanto, outras formas de dor, não elencadas no rol acima, que julgo muito maior. Em contraposição à dor do parto, por vezes aliviada com o uso de potentes anestésicos, apta a gerar a alegria da vida, há o momento da partida. Sim, caro leitor, a dor da morte faz com que, leigos ou letrados, após os momentos de fragilidade gerados pela perda repentina, percam as estribeiras. Suportamos com certa naturalidade a morte de nossos pais, a passagem de nossos amigos, o óbito de um irmão, o decesso de esposas e/ou maridos. Todavia, sem muitos rodeios, há uma forma de morte que não consigo observar sem irresignação. Essa é capaz de alterar, completamente, as dimensões do tempo: refiro-me ao padecimento de um filho! Caro leitor, já vi homem valente berrar como um cabrito, letrado perder a noção das coisas, crentes negarem a existência de Deus. Sorrisos que se foram e não voltam mais. Essa, meus amigos, a dor da perda de um filho, é aquela que considero a maior de todas as dores do mundo! Só de pensar me fragilizo. De imaginar me sinto fraco. Nenhum pai ou mãe deveria passar por este sofrimento. Ver a vida de um filho ser interrompida é uma experiência que ninguém merece viver. José Saramago dizia que os filhos são seres emprestados para um curso intensivo de amor ao próximo, de vida e de coragem. Ter um filho é um ato de amor e de destemor inigualável. O amor que se sente por um filho é incondicional. Por isso, a ojeriza ao aborto. A mulher que perde o esposo é chamada de viúva. O filho que perde os pais é tido por órfão. Entretanto, não há no dicionário um termo que designe o pai ou a mãe que perdeu um filho! “A crença de que a lei da natureza determina que os mais velhos morram antes dos mais jovens dificulta ainda mais a compreensão do que é enterrar o corpo do próprio filho”. Casamentos são desfeitos, homens viram alcoólatras, amizades desaparecem, um sorriso parece soar como uma certa forma de auto-reprovação. È preciso atribuir um resignificado à vida. A vida que se sonhou, não mais existirá. Surge sempre à lembrança a incômoda pergunta sobre o que poderia ter sido feito e não o foi. Existem momentos em que gostaríamos muito de ajudar a quem amamos, mas não podemos fazer nada. Ou as circunstâncias não permitem que nos aproximemos, ou a pessoa está fechada para qualquer gesto de solidariedade e apoio. Então, nos resta apenas o amor. Nos momentos em que tudo é inútil, ainda podemos amar - sem esperar recompensas, mudanças, agradecimentos. Se conseguirmos agir desta maneira, a energia do amor começa a transformar o universo a nossa volta. Quando esta energia aparece, sempre se consegue realizar o trabalho pendente. Henry Drummond dizia que ´o tempo não transforma o homem. O poder da vontade não transforma o homem. O amor transforma´. Que nenhum pai ou mãe sofra com a dor de enterrar seus filhos! Neste período do advento, primeiro tempo do ano litúrgico, onde os cristãos se preparam para celebrar o nascimento de Jesus, é o que mais desejo ao meu próximo! Celebrem, pois, a vida! (*) Delegado de Polícia Federal e Professor da Academia Nacional de Polícia
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