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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 16 de novembro de 2024
 

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Mensagem: SUICÍDIO: NÃO SE OMITA! * Marcelo Eduardo Freitas Diversamente de outros textos, em que procuramos traçar abordagens de forma abstrata, escrevo hoje a pedido de um amigo que, na ultima semana, movido por um rasgo de desespero, buscou por cabo à própria vida. Enfrento, assim, nesta missiva, um tema que tem impactado a vida de inúmeras famílias Brasil a dentro: o suicídio, não raras vezes recepcionado pela nossa sociedade com o “véu do silêncio”, como se estivéssemos a lidar com um assunto sobre o qual devesse pairar um voto de não discussão, de negação ao debate, de mais absoluto silêncio. Erramos! Profundamente! Não quero enfrentar a questão discutindo aspectos eminentemente espirituais, sem olvidar de sua relevância. Seria reduzir demasiadamente, a nosso sentir, um problema que transcende os caminhos da fé, cuidando-se, certamente, de mais um caso de saúde pública. De maneira didática, vou iniciar pela etimologia. A palavra suicídio foi concebida no ano de 1737 pelo botânico francês René Desfontaines. Com origem no latim - sui (si mesmo) e caedere (ação de matar) -, ela aponta para a necessidade de buscar a morte como uma fuga para o suplício que se torna insuportável. Esta ação voluntária e intencional parte da premissa de que a morte significa o fim de tudo, um mergulho no nada, um alívio para a tormenta. Não sem razão, deste modo, o Centro de Valorização da Vida (CVV), lançou a campanha Setembro Amarelo, com o propósito de conscientizar sobre a prevenção ao suicídio, alertando a população a respeito da realidade no Brasil e no mundo, sem deixar de apresentar algumas formas de prevenção, já que, a cada 45 minutos uma pessoa se mata em nosso país. Pelos números oficiais, assim, são 32 brasileiros mortos por dia, taxa superior às vítimas da AIDS e da maioria dos tipos de câncer. Na mesma linha, a cada 40 segundos, alguém ceifa a própria vida em alguma parte de nosso planeta. Há um outro dado extremamente grave: a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, para cada suicídio, mais de 20 outras tentativas ocorreram e, por algum motivo, não deram “certo”. Isso sem falar na “cifra oculta” daqueles que, fortemente, consideraram a idéia de tirar a própria vida. Esse dado, portanto, ainda é uma perigosa incógnita! O lado mais alarmante de todo esse estado de coisas talvez esteja na alta taxa de suicídio entre jovens que mal começaram a caminhada. Entre os 15 e os 24 anos, ele já se encontra em terceiro lugar nas causas de morte, logo após os acidentes e homicídios. O câncer, a AIDS e demais doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), há duas ou três décadas, eram lastreadas por tabus. Víamos, assustadoramente, o exponencial aumento do número de vítimas. Foi preciso o esforço coletivo, liderado por pessoas destemidas e organizações engajadas, para quebrar paradigmas, falando sobre o assunto, esclarecendo, conscientizando e estimulando a prevenção, tudo para reverter esse cenário. O resultado rendeu frutos! Na sociologia de Durkheim, o suicídio é apresentado de três maneiras distintas: Egoísta, Altruísta ou Anômico. Aqui nos compete esclarecer que, conforme citado sociólogo, cada sociedade está predisposta a fornecer um contingente determinado de mortes voluntárias, apresentando, em cada momento da sua história, uma atitude definida em relação ao suicídio. Chega de mortes “voluntárias”! É preciso alterar posturas! Mudar condutas! É isso que estamos a propor! O suicídio tem sido um mal silencioso. As pessoas fogem do assunto. Por medo, receio ou desconhecimento não percebem os sinais de que uma pessoa próxima está com ideias suicidas. A esperança é o fato de que, segundo a OMS, 9 em cada 10 casos poderiam ser prevenidos. É necessário ajuda e atenção de quem está ao redor de um potencial suicida. Suicídios podem ser evitados se sinais não forem banalizados! Alguns comportamentos, como deixar de sair com os amigos, demonstrar tristeza por muito tempo ou ter alterações expressivas no humor podem indicar que pessoas próximas precisam de ajuda! As tentativas de suicídio ou sua prática efetiva envolvem sempre uma grande dose de sofrimento, tensão, angústia e desespero! Estenda, assim, a mão que acolhe, o ombro que conforta. Isso pode salvar vidas! Um outro ponto relevante no enfrentamento: Segundo a OMS, cerca de 30% dos suicídios no mundo ocorrem por envenenamento com pesticidas, sendo a maioria registrada em zonas rurais, de países com baixa e média renda. Outros métodos recorrentes são o enforcamento e o uso de armas de fogo. O conhecimento dos métodos de suicídio mais utilizados, destarte, é uma importante ferramenta para a elaboração de estratégias de prevenção que têm se mostrado eficazes, como a restrição de acesso aos meios. Sem meios, os fins não são atingidos! A Fundação Oswaldo Cruz afirma que a maior parte das pessoas que pensa em cometer suicídio enfrenta uma doença mental que altera, de forma radical, a percepção da realidade e interfere no livre arbítrio. A depressão é um desses males! O tratamento da doença é a melhor forma de prevenir! A espiritualidade é considerada um fator de proteção! Ter uma crença afasta a possibilidade de pensamentos suicidas! No entanto, isoladamente, não resolve o problema! A atenção básica de saúde deve estar preparada para identificar sinais de alerta, ter familiaridade com o assunto e encaminhar o potencial suicida para algum serviço especializado. Contudo, infelizmente, essa não é a realidade do nosso sistema de saúde. Enquanto a realidade desejável não chega, é nosso papel fazer mais. Observe! Dê carinho! Ame mais! Acolha! Ajude! A fé é o instrumento que Deus nos deu para suportar as dificuldades! A solução há de vir com a ciência! Bons médicos, bons medicamentos, vidas salvas! (*) Delegado de Polícia Federal e Professor da Academia Nacional de Polícia

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