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Mensagem: Sem previsão de tempo Manoel Hygino - Hoje em Dia O brasileiro reclama do tempo, não tão regular como antigamente. As estações não são tão delimitadas, pois o homem do campo antes sabia a época de plantar, quando as chuvas estavam por chegar, a hora da colheita. As cidades cresceram desmensuradamente e algumas são muito maiores do que vários estados. E falta água nos reservatórios das usinas hidrelétricas ou para atender a demanda da população sequiosa. No século passado, já Euclides da Cunha informava sobre notícias que chagavam ao Rio de Janeiro “denunciando o recrudescimento do verão bravio”. Ah, se o autor de “Os Sertões” vivesse nos dias de hoje! Aliás, Euclides escreveu, mutatis mutantis , como ora faço: Os velhos sertanejos, afeiçoados à passagem da harmonia de uma natureza exuberante, derivando na intercadência firme das estações, não fazem mais previsões sobre o tempo. Procurando as causas, o escritor registra quanto contribuíram os índios com o mau costume do uso do fogo para sanar dificuldades imediatas, fazendo com que se cultivasse logo sobre as cinzas. Os que vinham de longe, os brancos, em busca tanto do aborígene, quanto do ouro principalmente, começaram a abrir caminhos e buracos pelas montanhas afora. “Atacaram a terra nas explorações mineiras a céu aberto: esterilizaram-na com o lastro das grupiaras; retalharam-na nas plantações de alvião; degradaram-na com as torrentes revoltas; e deixaram áridos, ao cabo, aqui e ali, por toda a banda, para sempre, avermelhando os ermos com o vivo colorido da argila revolvida, as catas vazias e tristonhas com seu aspecto sugestivo de grandes cidades em ruínas. Ora, tais selvatiquezas atravessaram toda a nossa história”. Teimávamos em destruir todo o território por ignorância, por inércia, por deixar como está para ver como fica. Nas regiões do regime pastoril, nos sertões, desbravados a fogo, incêndios duravam meses derramando-se pelas chapadas em fora. Estabelecia-se o regime desértico e da fatalidade das secas, que ameaçam anualmente o sistema energético hidrelétrico e o abastecimento de água às pequenas e às grandes cidades. As lições e as pregações, vamos dizer, até cívicas, para proteger o meio ambiente, praticamente nada ou muito pouco mudaram. Mesmo as advertências internacionais sobre os riscos que pairam sobre o planeta não produzem o efeito imprescindível. Em “Contrastes e Confrontos”, em boa hora lançada pela Fundação Darcy Ribeiro, presidido por Paulo Ribeiro, em coletânea idealizada pelo conterrâneo de Montes Claros, se tem, ampliada, a advertência de Euclides. No livro, encontram-se as explicações que deveriam ser sabidas pelos que, ou promovem a desertificação do país, ou permitem que ela continue. Desde o mau ensinamento do aborígene tudo tem mudado para pior. Novas derrubadas e estragos, novas capoeiras vegetando, tolhiças inaptas para reagir contra os elementos. Agravam-se cada vez mais os rigores do clima. Em tempos mais modernos, os grandes rebanhos, a necessidade de abastecimento da crescente as plantações em longa escala, população, o atendimento ao mercado externo, sacrificando a terra, os mananciais, a vida como um todo.
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