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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 16 de novembro de 2024
 

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Mensagem: MAIS UMA CRIANÇA SÍRIA: ONDE ESTÃO OS DIREITOS “DOS MANOS”? * Marcelo Eduardo Freitas Para se compreender os reais motivos que levaram a Síria a sua situação atual é preciso retroceder ao ano de 1962. Naquela data, diversas medidas de proteção aos cidadãos, até então previstas no texto constitucional daquele país, foram suspensas. A Síria era governada pelo ditador Hafez al-Assad que, durante três longas décadas, manteve-se no comando. Em 2000, como se fosse uma espécie de herança genética, Hafez transfere o poder ao seu filho, Bashar al-Assad, que até hoje, com “mão de ferro”, mantém-se no jugo daquela sofrida nação. O atual conflito civil na Síria iniciou-se, de fato, após sucessivos protestos da população, a partir do mês de janeiro de 2011. Em fevereiro daquele mesmo ano, o tom das manifestações ficou bem mais agressivo. Diversos grupos de rebeldes armados foram, aos poucos, se formando. Em boa parte, influenciados pelas diversas revoltas que ocorriam, ao mesmo tempo, no Oriente Médio: a chamada Primavera Árabe. Os grupos de “oposição”, desde então, ao se manifestarem de forma resoluta, evidenciaram o objetivo de derrubar Bashar al-Assad, presidente daquela pátria, a fim de dar início a um processo de renovação política e criar uma nova configuração à democracia da Síria. Porém, a “situação” acredita que as ações do Exército Sírio Oficial, que sabidamente pratica ações violentas contra os manifestantes, são formas de combate a “terroristas” que, em essência, pretendem “desestabilizar a nação”. A verdade, assim, passa a ser algo visto de pontos distintos. Tenho para mim que a essência da democracia está na alternância de poder. A mudança de governantes e a severa rejeição à perpetuidade de dirigentes políticos no comando das nações são as bases do conceito de democracia, formulação esta herdada da Grécia antiga. Felizmente, a maioria das sociedades contemporâneas adota um regime profundamente inspirado nesta ideia, com vários graus de imperfeição, admito. Contudo, a pior democracia é preferível à melhor das ditaduras, já dizia Ruy Barbosa. Superadas as digressões históricas sobre a origem da desgraça naquele país, que faz fronteira com o Líbano e o Mar Mediterrâneo a oeste, com a Turquia ao norte, com o Iraque ao leste, com a Jordânia ao sul e Israel ao sudoeste, mantendo, assim, posição estratégica no globo terrestre, é preciso ressaltar uma situação absurdamente dramática: relatório das Nações Unidas classifica a guerra síria como a ´grande tragédia do século 21´. ´A Síria transformou-se na grande tragédia deste século, uma calamidade em termos humanos com um sofrimento e deslocamento de populações sem precedentes nos últimos anos´, afirmou António Guterres, do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR). O saldo parcial deste flagelo é assustador: 260 mil mortos e 4,5 milhões de refugiados! Dentre as vítimas da penúria, mais uma vez, uma criança! As TV’s do mundo inteiro mostraram Omran Daqneesh, um pequeno menino de 5 anos, trajando short e camiseta completamente sujos de sangue e poeira, imagem que causou comoção nas redes sociais de todo o planeta. Alvo de um bombardeio aéreo em Aleppo, no norte da Síria, juntamente com pelo menos outras 52 pessoas, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), Omran, infelizmente, não é um caso isolado: Há outras 100 mil crianças que estão na linha de frente da guerra civil! Pior: sem absolutamente nenhuma resposta minimamente digna por parte dos Direitos Humanos. Os discursos, assim, venham de onde vier, mais uma vez, falham! A proteção internacional a seres tão indefesos parece surtir efeito somente quando se cuidam dos “manos”, isto é, nacionais das grandes potências ocidentais que, por conta desse detalhe, não devem passar por qualquer forma de tribulação. Afinal, nesta senda, o pau que dá em Chico não deve bater em Francisco! É preciso, portanto, um pouco mais de coerência nos discursos sobre direitos humanos! A preservação à vida deve valer em cada rincão do planeta! Simples assim! O poeta inglês John Donne, terceiro de uma família de seis filhos, afirmava que “a morte de cada homem diminui-me, porque eu faço parte do gênero humano; eis porque nunca pergunto por quem dobram os sinos: é por mim”. É por cada um de nós! Mormente em tragédias reiteradas como aquelas acima vistas. O mal tem assolado muitas famílias. É preciso, destarte, exercitar o poder de irresignação. Mas com ações concretas que minimizem os efeitos deletérios da guerra sobre os homens e mulheres de bem, onde quer que ocorra. Pode ser ao seu lado, no lar esfacelado pelas drogas, pela bala perdida, pela violência contra mulheres e crianças, entre tantas outras formas de crueldade e privação. Quem nunca as viu? Não sem razão, Vladimir Herzog afirmava que “quando perdemos a capacidade de nos indignarmos com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerarmos seres humanos civilizados”. É preciso olhar para o próximo! “Mano”, eis aí a essência do primeiro mandamento do Decálogo! (*) Delegado de Polícia Federal e Professor da Academia Nacional de Polícia

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