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Mensagem: Montes Claros Confesso, na Praça de Esportes Vivi Alberto Sena A foto número 4.175, do acervo de Maria das Dores Gomes Guimarães, Dona Dorzinha apitetada, com Martinha Abreu e Carmen Netto, ambas esperando pelos respectivos namorados, é emblemática. Incontáveis vezes sentei-me naqueles degraus de escada vistos ao fundo, tendo acima uma espécie de portal com bougainvilles. No imóvel visto ao fundo funcionou, na década de 50, uma rinha de galo, onde aves se esfolavam em meio aos gritos dos apostadores. Penas voavam e não raramente dos galináceos escorriam sangue e alguns que levavam a esporada fatal estrebuchavam ali mesmo para decepção do seu dono. Até que um dia, já na década de 60, o então presidente da República, Jânio Quadros, empunhando a sua vassoura como emblema de campanha, mandou fechar todas as rinhas do País e proibiu, definitivamente, as brigas de galos. Essa proibição acabou sendo o maior feito dele, depois da renúncia malfadada, da qual o Brasil se ressente até hoje. Aquela árvore imensa lá atrás – dê uma espiada na foto para apreciar – é uma pé de jambo vermelho. Ali na Praça de Esportes havia – não sei se ainda há – vários jambeiros vermelhos. Naquela época em Montes Claros, até parecia que só existia jambo vermelho. Foi muito depois, já longe, é que descobri a existência também de jambo amarelo, por sinal, muito mais saboroso do que o vermelho. O gramado onde Martinha e Carmen sentadas esbanjam charme, era – não sei se ainda é – o que chamávamos de “pista”. Tinha o formato arredondado e era ali onde travávamos os maiores embates por meio de “peladas” que revelaram muitos craques. Quase todas as tardes lá estavam jovens como eu disputando par ou ímpar para escolher os seus times. As peladas começavam por volta das 16h e iam até o Sol se pôr. Tinham o sabor de liberdade. Naquele tempo, as rivalidades praticamente não existiam ou pelo menos não se percebia como percebemos hoje em dia. A “pista” servia para uma pá de atividades além da tradicional “pelada”. De manhã, debaixo do Sol ardente de Montes Claros, se podia arremessar tampas de cera Parquetina em partidas individuais e em duplas. E todo acontecimento cívico tinha ali uma atividade, que tanto podia ser um desfile de escolas ou disputa de corrida. Naquele época, a Praça de Esportes era o centro do mundo. Não havia Automóvel Clube nem os outros clubes atuais, a não ser o Clube Montes Claros, na esquina das ruas Doutor Veloso e Presidente Vargas. Então, tudo acontecia na Praça de Esportes. Próximo ao pé de jambo vermelho havia seis pilastras encimadas por um telhado onde se encontravam à disposição dos associados duas mesas oficiais de pingue-pongue. Era uma festa. Havia quem, como eu, que era viciado em pingue-pongue. Disputas homéricas aconteciam. Cortadas zuniam para alegria dos que em volta das mesas assistiam os craques. Disputavam-se campeonatos de pingue-pongue. Nomes como Bichara, Zé Venâncio, João José, Jáder, entre outros, eram invejados na arte de “pingueponguear”. Sem falar, claro, que a Praça de Esportes era o lugar mais procurado pelos namorados. Tanto é verdade que essas duas beldades da foto ali estavam à espera dos seus respectivos. A Praça de Esportes ali está, como sempre esteve, mas perdeu o seu charme. Ao longo do tempo a sua magia desvaneceu-se e embora esteja aberta, funcionando, foi motivo de polêmica quando o então prefeito Luiz Tadeu Leite cismou de vender parte do terreno. A Praça de Esportes deve continuar ali, integralmente. Precisava ser valorizada, incrementada, não para resgate do charme e da magia, mas como alternativa para muitos praticarem esportes. Nada mais posso dizer, porque, afinal, saí de Montes Claros faz mais de 40 anos, mas Montes Claros nunca saiu de mim. Então, esta é uma oportunidade para reafirmar: confesso que vivi intensamente em Montes Claros. E aproveito para fazer aqui a minha declaração de amor por essa cidade, onde está enterrado o meu umbigo. Onde fiz levas e mais levas de amigos.
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