Receba as notícias do montesclaros.com pelo WhatsApp
montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 17 de novembro de 2024
 

Este espaço é para você aprimorar a notícia, completando-a.

Clique aqui para exibir os comentários


 

Os dados aqui preenchidos serão exibidos.
Todos os campos são obrigatórios

Mensagem: VOLTA AO PARAFUSO Alberto Sena Por esses dias encontrei-me diante da Escola Estadual Gonçalves Chaves, em Montes Claros, na Praça João Alves, nem sei quantas décadas depois de sair a última vez pelo seu portão. Recordei-me então de quando menino de sete anos de idade entrei a primeira vez no prédio, por esse mesmo portão. Naquela época, ano de 1956, a nomenclatura era Grupo Escolar Gonçalves Chaves, e o curso era chamado “Primário”. A família morava na Rua São Francisco, quase esquina de Rua Corrêa Machado. Por determinação expressa de dona Elvira, minha mãe querida, Lúcia, uma das minhas seis irmãs levou-me à presença da diretora do grupo, dona Maria Celestina Almeida. A diretora me conduziu a uma sala e me submeteu a um teste de seleção. Do teste recordo-me de uma figura apresentada por ela. Era uma casa de portas e janelas azuis. Fincada no chão e apoiada no telhado da casa havia uma escada de madeira. E no telhado, por incrível possa parecer, havia um porquinho. A pergunta era: “Como o porquinho chegou ao telhado?” Respondi na bucha: “Subindo pela escada”. Selecionado para a sala da professora dona Bernadete Costa, mãe do ainda futuro jornalista Robson Costa, que aos 17 anos encontrei no O Jornal de Montes Claros, e mais tarde, com 22 anos, com ele convivi na redação do jornal Estado de Minas, em Belo Horizonte – depois Robson foi para o Estadão/Jornal da Tarde, São Paulo, onde faleceu aos 38 anos. Dona Bernadete era professora rigorosa e eficiente. Com ela aprendi a ler e a escrever. Era uma mulher pequena, magra. Tinha voz cheia de autoridade. Quem não cumpria à risca com as obrigações “cortava doze” com ela. Toda segunda-feira, os alunos devidamente enfileirados diante das escadas do prédio cantavam o Hino Nacional com hasteamento da Bandeira Nacional. Em seguida, os alunos selecionados declamavam poesia de Olavo Bilac, Cecília Meirelles, Casimiro de Abreu, entre outros. Por esses dias, em Montes Claros, com Lúcio Bemquerer, a fim de apresentar o Presépio Natural Mãos de Deus aos integrantes do grupo de oração São Pedro, no condomínio Vila Rica, onde mora dona Milene Maurício, que organizou tudo, pude recordar daquela época em que Montes Claros esbanjava sossego. De vez em quando passava uma sedan preta, carro de praça chamada. O prédio da Escola Estadual Gonçalves Chaves ainda conserva algumas das suas caraterísticas originais. Pelo menos na fachada. A grade do muro parece a mesma, mas escondida por uma tira de latão de fora a fora, que não deixa ver o lado de dentro. Na área do lado direito do prédio, na parte externa, onde havia enorme cruzeiro em um pedestal de cimento, cruzeiro encontrado enterrado quando do início da sua construção, simplesmente desapareceu. A área tornou-se um estacionamento de carros. O relógio estava a caminho do meio-dia. Vários jovens chegavam ao prédio para o início de mais um dia de aula. Não havia ninguém na entrada para nos dar informações. E como não queríamos – Sílvia e eu – chamar a atenção dos alunos e parecer estarmos invadindo o colégio, preferimos nos conformar com a visão externa do prédio. Mas a intenção era entrar e rever as salas de aula. E, principalmente, o pátio no centro do prédio. Para chegar ao pátio era preciso descer alguns degraus de escada. Pelo que pude apurar depois, o pátio já não existe. Tudo foi nivelado e ocupado. Uma avalanche de lembranças perpassou-me a cabeça. No curso primário antigo sempre fui bom aluno. Tanto que só fiz prova final uma vez em todo o período para terminar a quarta série primária. Fazia parte do grupo de alunos com notas suficientes para ser aprovado sem precisar fazer provas finais. Ser aprovado com antecedência, entrar em férias antes do restante da turma redundava numa alegria sem tamanho. Ao receber a notícia de que poderia ir para casa gozar férias antecipadas, ao sair do portão da escola arremeçava a pasta ao alto com os cadernos e caixa de lápis de cor e gritava a todo pulmões: “Estou de férias, passei de ano”. Era quando tinha o dia inteirinhozinho para viver a trabalheira de jogar bolinha de gude e finca porque a essa altura do calendário chegara o período das águas. A terra estava úmida e as ferramentas necessárias afiadas para traçarem linhas no chão como quem risca e rabisca sonhos. Ali na Praça João Alves diante do prédio da Escola Estadual Gonçalves Chaves, décadas depois, por um momento pareceu-me ouvir o vozerio dos colegas de então, na hora do recreio, chutando bola de meia em meio à poeira vermelha do pátio externo, hoje todo ocupado.

Preencha os campos abaixo
Seu nome:
E-mail:
Cidade/UF: /
Comentário:

Trocar letras
Digite as letras que aparecem na imagem acima