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Mensagem: Meu amigo Zé. Realmente não sei por que somente eu, entre seus amigos, o chamo de Zé. Seu nome completo é Jose Francisco Ornelas, filho do saudoso gênio Chico Ornelas. Conheci o Zé e nos aproximamos por volta dos anos 70, em nossa cidade natal, Montes Claros. Posso, sem resto de dúvidas, afirmar que o meu amigo Zé é um homem notável e preenche todos os requisitos dos adjetivos e qualidades que se seguem: Homem recatado, modesto, comedido, simples, tímido e doce como ninguém, dedicado ao trabalho, afeito às responsabilidades, dono de um raciocínio rápido e lógico de dar inveja, perfeccionista, eficiente, despretensioso, curioso, inventor de rara criatividade, mecânico habilidoso, portador de excepcional bom gosto musical, fiel aos amigos, generoso e bom companheiro. Entretanto, em função do Zé ser prudentemente discreto, nunca soube dos seguintes particulares: as de bom filho, bom pai, bom esposo e bom amante, que completam um perfil de homem perfeito. Mesmo porque, não me dizem respeito porem, dificilmente acreditaria que ele não seja possuidor destas virtudes. Mais que isto, ponho minha mão no fogo por ele. Passo a contar dois pequenos casos que compartilhamos no nosso passado e que justificam minhas afirmativas e declaração de amor ao Zé. O som do Viche Em 1971, abriu o primeiro barzinho Cult e Glamoroso, em Montes Claros, o Viche!. O bar apresentou pela primeira vez no sertão de Minas, uma primorosa seleção de músicas vinda diretamente das boates da capital e do Rio de Janeiro. As fitas foram trazidas pelo Irineu Torres, rapaz da capital que casara com Oneide Queiroz. Por causa da pouca grana, a minha prima pediu para ajudá-la a montar um som para seu novo empreendimento. Eu não tinha a menor experiência em montar um som profissional, para cinco ou seis ambientes, internos e externos, do barzinho que estava sendo instalado em uma casa velha e seus jardins, da Rua Quinze, no centro da cidade. Esta foi uma demanda justa e certa para as habilidades do Zé. De pronto convidei-o para me ajudar. Eu havia comprado em Manaus um modernoso Tape Deck, Tecnics RS 275CU, “made in Japan” de 4 canais de áudio, raridade naquela época. Era a única peça que tínhamos disponível. O Zé pensou, pensou e no outro dia apresentou-me a seguinte solução; nem pensar em comprar um power, um equalizador e mesa de mixagem! Não se tinha grana para isto. Zé estava consertando, para outro amigo músico, um amplificador caixotão à válvulas, próprio para baixo e guitarras, de uns 2000 Watts, usado por um conjunto de rock. Sugeriu que, durante uns dois meses, usaríamos o equipamento da banda que estaria em viagem e depois daríamos um jeito. Embutimos uns 10 alto-falantes de 12 polegadas no teto de forro paulista da velha casa. O amplificador possuía, no painel frontal, controles de Gain, Overdrive, Bass, Middle, Treble , vibrato, eco e entrada pra microfone. Durante um ano, com esse equipamento da banda, o som rolava noite e dia fazendo o maior sucesso com a moçada da cidade. O vibrato e o eco, produziam maravilhosos efeitos sonoros que, somente na atualidade, estão sendo usadas pelos melhores” Disc Jookeys”. Grande inovação do gênio criativo! Um dia Zé retirou o equipamento e devolveu ao amigo. Aí, Irineu já estava cheio da grana e montou um som só seu para substitui-lo, nos divertimos muito!!! O laboratório fotográfico Naquele mesmo tempo, o Zé e eu nos tornamos sócios em um laboratório fotográfico. Os equipamentos foram montados na garagem da casa de Fernando Catedral, na Rua Dr. Santos. O laboratório foi praticamente montado para produzir propaganda comercial através de “shows de slides” que eram exibidos antes das seções de cinema, divulgando os produtos das lojas locais. Os contratos eram vendidos por mim, aos comerciantes e, os “chromos” eram fotografados e revelados pelo Zé, com uma velha máquina de fole 6 x 9, fabricação francesa nos anos 40. No nosso laboratório fotográfico confeccionávamos também grandes painéis fotográficos com até 3 metros de altura, para feiras e exposições agropecuárias. Coisa de profissionais. Como não tínhamos equipamentos para produzir peças nestes formatos, o Zé inventou um banho de revelação, onde os produtos químicos eram aplicados com chumaço de algodão, e as lavagens realizadas em uma banheira de louça domestica da mãe do nosso locador. Era uma corrida louca para contar os tempos de exposição dos papéis fotográficos. Mas tudo era válido para fazer algum dinheiro naquela época. Outra linha de produtos, era os “álbuns de retrato”, serviço árduo e honesto porem menos nobre, que fazíamos a cobertura de festas sociais e desfiles de Miss e rainhas para cidades vizinhas menores. O Zé sempre foi afeto a ilações filosóficas e me lembro bem uma certa vez, em Coração de Jesus, após uma noite de trabalho na festa de Glamour Girl, passamos o resto da madrugada tentando simular uma manifestação de dimensão extrafísica do fenômeno paranormal de experiência fora-do-corpo. Cada um, deitado em sua cama de hotel, ficou horas esperando uma sensação de saída ou escape do corpo físico, através de técnicas de relaxamento e meditação profunda. No dia seguinte pela manhã, estávamos mortos de sono e ninguém tinha conseguido levantar um só centímetro do colchão e ainda tínhamos que fotografar os álbuns de 60 adolescentes. Outra vez, era a prática de sessões de reflexões sobre interações interpessoais afetivas com pessoas amigas, na porta da capelinha do morro da Malhada Santos Reis, com apenas as luzes da cidade de Montes Claros ao longe e a nossos pés. Uma das características da personalidade do Zé, é sua impressionante aptidão em lidar com brincadeiras matemáticas, tal como calcular, em segundos, a quantidade de dias, horas e minutos, vividos por uma pessoa. Ou então, a determinação do dia da semana em que a pessoa nasceu, a partir do conhecimento da data de seu nascimento. Isto tudo não quer dizer que Zé não seja uma pessoa altamente sofisticada, notadamente pela sua preferência por carros especiais, como o seu Volkswagen SP2 da década de 70 e o Jaguar dos dias de hoje, todos dois na cor azul claro. Esta sofisticação também é percebida pela qualidade de seus equipamentos fotográficos, seus livros, seus discos e seu som sempre valvulado. Enfim, este é o Chico Ornelas que eu conheci e acho que ainda conheço. Q.E.D. Quod erat demonstrandum Geraldo Mauricio, Nenzão
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