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Mensagem: AS BONECAS TILDAS Vocês conhecem as bonecas tildas? Elas não têm boca e têm asas. Sabem por quê? Porque elas falam com o coração e quem fala com o coração são os anjos. Bonita alegoria, não?! Elas são perfeitas para um teste psicológico não apenas com crianças, mas também com adultos. Nós somos tão barulhentos! Nosso mundo é cheio de ruídos. Tagarelamos demais. E, no entanto, o silêncio fala tudo. Fala através de um sorriso, de olhos brilhantes e amorosos, gestos de afago, mão estendida, abraços, generosidade, lágrimas sinceras. Vivemos em uma sociedade em que os alaridos histéricos do mundo exterior, muitas vezes, abafam os espaços internos. Esses barulhos ensurdecedores costumam emudecer os silêncios da natureza, dos olhares, das estrelas, da respiração, dos gestos de ternura. E, o pior, nos ensurdecem às falas de nossa essência, levando-nos a perder o contato conosco, com a natureza. Somente no silêncio vamos conseguir a relação com o nosso ser mais profundo; é este silêncio que abre as possibilidades da paz interior. É na calmaria e no remanso do silêncio que vamos encontrar aquela fonte inesgotável onde estão e se revelam as energias e potencialidades múltiplas. É preciso que nos treinemos para ouvir os doces sopros do silêncio, para as escutas mais leves e sutis, pela abertura do coração e da mente em estados de calmaria e serenidade. O silêncio nos remete ao vazio e este vazio é o objetivo de toda meditação. Quando tudo se cala dentro de nós, Deus se manifesta. Como diz um amigo, o Professor e Doutor Miguel Almir de Araújo, “com sua espessura macia, o silêncio nos mergulha nos oceanos de nossos desvãos mais enigmáticos e vastos”. O silêncio vivifica e fertiliza. Somente no estado de intenso silêncio, somos capazes de ouvir os mistérios do sagrado e comunicarmo-nos com a beleza do cosmos. Tudo de mais profundo só se revela no silêncio. É no silêncio que se revelam os valores mais nobres da vida: a fraternidade, a solidariedade, a justiça, a humildade, a beleza, a alegria, o amor verdadeiro... O nosso grande poeta, Tiago de Mello, proclama: ”a couraça das palavras protege nossos silêncios e esconde aquilo que somos”. A melhor maneira de compreender seja lá o que for não é falando e nem ouvindo as palavras, mas auscultando o silêncio. Lembro aqui, mais uma vez, palavras de nosso amigo, Miguel Almir Araújo: “as janelas do silêncio abrem as portas da escuta, levam à casa da sabedoria. Os silvos do silêncio sibilam canções sagradas nos ermos de meu templo”. Existe uma profunda sabedoria no silêncio. Arturo Paoli, escritor italiano, escreveu um livro extraordinário sobre a importância do silêncio: “O SILÊNCIO – plenitude da palavra”. O título já diz tudo e remete-nos à sua riqueza. Vejamos alguns de seus pensamentos preciosos. Logo no início, ele diz: “O mundo em que vivemos é um mundo contaminado pelos ruídos; se o silêncio é um elemento necessário à espiritualidade, devemos concluir que esta humanidade não é feita para viver espiritualmente”. É verdade que todo o nosso dia-a-dia é invadido pelos ruídos da televisão, dos carros, das palavras desnecessárias, das pretensas músicas dos rádios e assim por diante. Entretanto, podemos criar o nosso espaço de silêncio. Se não podemos ter um lugar especial, junto à natureza, acordemos cedo e aquietemos a nossa mente por alguns minutos, esperando que o nosso eu interior nos sussurre o nosso avesso e Deus se comunique, iluminando o nosso dia e a nossa vida. Este é um hábito bastante saudável. Paoli continua: “A pessoa se constrói no silêncio. (...) Ele é uma disposição interior para ouvir a palavra de Deus: é o símbolo da disponibilidade total. (...) A relação que desfaz todos os nós, que cria uma lembrança gratificante, é silenciosa. (...) O silêncio é ar fresco depois da caminhada no deserto árido, é a harmonia reencontrada, na qual a pessoa se livra daquele mercado ruidoso no qual estamos mergulhados durante o dia”. O livro é tão lindo, recheado de verdades tão profundas que, se nos deixarmos levar por isto, acabaremos por reescrevê-lo aqui. Outro livro que nos fala do silêncio, como dos questionamentos da vida moderna, ajudando-nos bastante em nosso processo de crescimento é “Cartas entre amigos”, do Padre Fábio de Melo e o Professor Miguel Challita. O nosso amado e santo João Paulo II dizia: “Só no silêncio o ser humano consegue escutar no íntimo da consciência a voz de Deus, que verdadeiramente lhe faz livre”. Pois é, esta a sabedoria a que as bonecas tildas nos remetem. Falar com o coração. Ah, que mundo melhor teríamos se todos falassem com o coração! Se não escondessem através da palavra os seus verdadeiros sentimentos, emoções, pensamentos e intenções... Maria Luiza Silveira Teles (presidente da Academia Montes-clarense de Letras)
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