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Mensagem: AS MANHÃS AZUIS DA IRMÃ DE LOURDES Wanderlino Arruda Os anos passam e não há um só dia que eu não tenha alguma lembrança dos bons tempos de convívio com a Irmã Maria de Lourdes, uma das mais lúcidas inteligências que conheci. É que foram bem ricos os meus horários como professor de Língua Portuguesa e Literatura, além de aulas de Contabilidade no Colégio Imaculada Conceição. Dos meus mais de sessenta anos de magistério, desde que fui professor de Inglês na antiga Escola Normal, direção de Dona Taúde, os tempos do Imaculada realmente marcam saudades. Lindas, importantes e entusiasmadas alunas, a maioria amigas até hoje, bons colegas de magistério, disciplina e finura de trato de todas as irmãs, tudo sempre me representou motivo de boas lembranças, principalmente as conversas com a Irmã de Lourdes sobre cultura e costumes das gentes lusitana e brasileira, principalmente as do nosso Norte de Minas. Nunca me canso de dizer da beleza dos versos de Irmã de Lourdes nos cantos da manhã de azul! Quão saudoso é o São Francisco, seu vassalo e o rio-mar, tristeza e alegria de todas as lembranças da mocidade! Como foram e são lindas as manhãs imponderáveis, os fios de horizontes em contraste com as horas mais doces! Quanta sensação de cheiros e de cores de todas as rosas e dos arminhos dos verdes anos! Januária, Januária, há coisas mais lindas no amor? Todos os sonhos se realizam no espaço-tempo de um belo coração. Tua poesia, Irmã de Lourdes, teu `Caderno de Lembranças` é a luz mais clara da infinitude da alma, um halo da cor do céu, reflexo de águas mansas que passam numa eternidade! Teus pescadores singraram um rio de sonhos e se alimentaram de brisas de todos os mares de santa imaginação! Gostei imensamente da amorosa adjetivação do `Caderno de Lembranças`, livro de poesia dos mais coloridos substantivos, abstratos para a vida comum e concreto para o pensar da artista. Versos de angelitude e de fé, gratificantes do mais bonito poetar. No mundo, sem ser do mundo, reais no aqui e no agora, jamais abandonaram o espaço-tempo de quem soube voar no mais verde da esperança. Irmã de Lourdes foi e é namorada do azul e, queira ou não, suas personagens terão sempre o colorido das águas e do céu do São Francisco: Celeida, Celeste; Marina e até Dulce, com doce de perfume de infinito! Há nobreza nas flores, há nobreza nas pedras, haverá sempre joias para enfeitar a amizade sempre próxima da pureza do encanto. Grata aos que sabem viver pelo estudo e pelo amor, Irmã de Lourdes desfilou uma galeria de nomes de reconhecido valor: Yeda, Genoveva, Jacy, Heloísa, Luiz de Paula, Antônio Augusto Veloso, das Irmãs Guiomar e Edmunda. Irmã de Lourdes, como irmã e como professora, teve, naturalmente, um mundo bem diferente do nosso. Não tinha como não poderia ter muitas das nossas imediatas preocupações, tão naturais à guerra da vida de todo dia. Seu universo foi povoado de muito futuro, quando pensava nas outras pessoas, e de muito passado, quando pensava em si mesma. O presente nunca lhe importava quando ela via - e era bom que isso acontecesse sempre - o lado bom dos que passavam pela sua amizade e carinho. Assim, suas flores eram lírios, rosas, jasmins, miosótis, o tão grato manacá, todas vivas de transparência, exalando perfumes de amor! O cristal, o diamante, a turquesa, a esmeralda eram nuanças do verde-azul do seu rio, ou do mar de Olivença tão vivos no coração. Quando falava de rubis, não queria dizer outra coisa que o pulsar dos antecrespúsculos presentes no seu São Francisco natal. As cidades de Irmã de Lourdes acordavam a voz dos séculos e marcavam muitos sóis de primavera no texto suave da Boa Nova, na mais linda das mensagens de todos os tempos. Através dos versos, o perfume do Líbano, lembranças dos cedros; a alma do Sião, mensagem de aguadeiras e de pastores bíblicos, com orvalho de manhãs de intensa luz; o barulho juvenil de Cades, a movimentação de dançarinos e mercadores; a esperança de Jericó, lugar sagrado de encontro entre a verdade e a fé. As cidades da Irmã de Lourdes tinham o azeitonado tom de Olivença, o brilho de névoa de Friburgo e todas as sequências de matizes das mais ternas de todas as cidades do mundo: Januária e Montes Claros. * Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros
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