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Mensagem: ÂNGELO SOARES NETO Wanderlino Arruda Revisito a História, muitos anos depois de escrever sobre o HOTEL CACHOEIRA DE S. FELIX, mesmo considerando o longo tempo de seu lançamento, feito pelo meu querido e saudoso amigo Ângelo Soares Neto. Faço-o, entretanto, lembrando ainda a eleição do Ângelo para a Academia Montes-clarense de Letras e sua posse festiva em uma linda noite de janeiro. É, assim, uma lembrança muito grata da leitura que fiz há mais de trinta anos, do romance escrito em Salvador pelo montes-clarense de Taiobeiras, o amado filho de D. Laura. Acrescente-se também a recordação de um interessante discurso feito no lançamento por Ubaldino Assis, tio e conselheiro do romancista, um desfilar de apontamentos entre o racional e o apaixonado, coisas de quando o Ângelo era garoto, menino de recados do Banco do Nordeste, aluno do velho Instituto do Doutor João Luiz. O tempo passa, a experiência amadurece, as visões e as realidades da paisagem de muitos pedaços de Brasil vão se fixando na memória do escritor. A imensidão de Brasília, o vertical, o horizontal, as linhas curvas da arte de Lúcio Costa e de Niemeyer, a busca da solidariedade, o mando, o asfalto, o agreste, a imensidão do planalto de Goiás, tudo fica retido. Ao lado ou como superposição, o mar, o verde mar de Iracema, a lagoa azul de Iracema, a praça do Ferreira, a Aldeota, a cajuína, o caju, a graviola, o mercado, o calor de Fortaleza e, como símbolo do Ceará, a serra do Baturité. De longe, como memória de infância, o gerais, o serrado, o frio, a garoa, os pequis de Taiobeiras. Muito de Irecê, de Itabuna, de Propriá, de Guanambi, um mundo, um mundão desta terra descoberta por Cabral. De Montes Claros, Ângelo reviveu uma gostosa vida de menino levado, parada dura no Grêmio do Instituto Norte Mineiro, curso de contabilidade, primeiras namoradas, feijão-tropeiro, torresmo, quebra-queixo, seresta, cinemas aos domingos para ver os seriados, conversas perdidas na frente da casa de Konstantin, solteirão da rua D. João Pimenta. Acredito que, além da diversão que era muita, aconteceu também muita leitura nos escritos de Cândido Canela, Olyntho e Yvonne Silveira, Nelson Viana, João Chaves, substrato que floresceu em muitas de suas ideias. Claro que a evidência maior é mesmo a da cidade do São Salvador, principalmente do Largo do Pelourinho, campo antigo de batalha de estudantes e intelectuais e até hoje de prostitutas e viciados, e de eternas batidas da polícia. De Salvador, Ângelo reviveu seus melhores anos de Banco do Nordeste e da Faculdade de Direito, mas, principalmente, da pensão-hotel-república, mundo de suas aventuras de amor e perdição. Professor de dança para americanas, guia turístico de fala francesa nos fins de semana, foi ele um jovem cidadão baiano no Farol da Barra, no Terreiro de Jesus, na Praça Castro Alves, na Avenida Sete, na grã-fina Rua Chile, para não falar das incursões do Mercado Modelo, da Feira da Água dos Meninos, nas praias de Amaralina até chegar a Itapoã. Dir-se-ia um universo de contradições do maravilhoso pagão e do místico cristão, produto da mescla cultural que só a Bahia consegue ter e reter. HOTEL CACHOEIRA DE S. FÉLIX é um livro de confissão à moda de Darcy Ribeiro, em ´O Mulo´. De repente, o autor se deita num divã do analista e começa a contar suas experiências, suas vivências, a vida das pessoas que passaram por sua vida. Pensa e sonha com o que foi real, dando mais forças aos temperos das comidas e no doce sabor dos beijos e abraços de corpo inteiro das namoradas ou das mulheres de encontros sem compromisso. De repente, o autor descobriu na força telúrica dos homens e mulheres rudes do campo, do casamento do indivíduo com a natureza, das paixões de baixo de cobertores domésticos ou dos lençóis enxovalhados das casas de tolerância, um universo de perfumes de mocinhas de boa família e de fêmeas de brilhantina barata, tudo numa vida mais agitada que um furacão antes de explodir. Felizmente, o autor falou também de artes, de sentimentos, de ternuras, de doces carícias, de inocência, de momentos em que um minuto vale por um milhão de séculos, onde o passageiro é a eternidade. Tudo uma fotografia verbalizada de um bonito acontecido. Há uma verdade, muito verdadeira: quando é registrada, a palavra não passa. Nunca! Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros
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