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Mensagem: Coisas de palco... Na década de 1960 não havia a chamada caixa de retorno (foldback) voltada para o palco. Músicos tarimbados muitas vezes se perdiam. Era preciso fazer uma ligeiríssima suspensão no andamento da canção para, num átimo, perceber sua posição, não cair n`água - sair do ritmo - e retomar o embalo. Esse tempo felizmente passou, mas roqueiros, metaleiros e outros demônios ainda se defrontam com o problema, a depender do equipamento, recursos de palco etc. e tal. A idéia de tecer estes comentários me veio ao ler ´Vida´, biografia oficial do Keith Richards, lead guitar dos Stones. Ele comenta o problema acima exposto e reafirma seu sonho de voltar a tocar em locais fechados, com assistência reduzida. Por esse e outros motivos, cansado da tecnologia da época, Lennon propôs aos companheiros o encerramento das turnês dos Beatles em estádios, ou arenas, como preferirem. Desabafou John: ´Vamos parar com essa merda! Ninguém ouve o que tocamos, nem mesmo nós, e eu não aguento mais essa zorra - referia-se aos fãs, que não iam aos espetáculos a não ser para gritar, se envolver com os de sua idade, admirar de longe seus ídolos, enfim, se afirmar, amar, extravasar, se rebelar. Voltando a Richards, diz ele que, quando o megalomaníaco Mick - no dizer dele - inventou palcos gigantescos, ele, Keith, e Watts, batera da banda, foram contra. Enfim, grana em jogo, e quanto mais público mais grana, o tal palco foi encomendado: mais de 50m de boca e não sei quantos de fundo. Nos bastidores da época, sabemos, Banquete dos Mendigos... Só não rolava a ´brown sugar´, porcaria se comparada a dos laboratórios Merck. A primeira turnê stoniana com palco gigante estreou nos EUA*, aquela da Honky Tonky Women, remember? Em qual cidade não lembro, consultem o Google. Confusão geral. O público ululante nada percebeu, mas os engenheiros de som ficaram loucos e os componentes da banda, desnorteados, ´caíram n`água´ em algumas passagens. A razão de todo esse desencontro? Ah, quando o lead vocal, Jagger, se afasta dos demais da banda, sua voz leva milésimos de segundos para, propagada pelo sistema de som do estádio, ser captada na volta pelos companheiros. Sabemos algo a respeito da velocidade do som, neh? Pois é, pânico na estreia da turnê. Para o staff promotor do evento, foi como se uma viagem tripulada à Lua tivesse malogrado. Ainda não há solução ideal para tal problema técnico, o da propagação do som em certos espaços/ambientes. Segundo Keith Richards, devido ao fato de The Rolling Stones estarem há cinco décadas na estrada, desenvolveram um ´esquema´ para driblar tamanha dificuldade. Funciona mais ou menos assim: Quando o Mick se distancia muito, todos os seus rebolados, gestos e trejeitos são acompanhados pelo baterista e gerente de palco, Charles Watts. Eles criaram um código. Então, quando o Mick levanta um braço, mexe com a bunda ou algo assim, o batera pega a deixa e corrige imediatamente o ritmo, se necessário. Os outros seguem-no, incontinenti. Ele, de olho no Mick, os outros de olho nele. ´Há sempre um atraso, imperceptível, porém, imperdoável. O que fazer?´ pergunta-se Richards. * De alguns anos para cá, notaram? as estreias de turnês mundiais de certas rockbands têm acontecido no Brasil, Argentina, Austrália, Japão... Por que não em Nova Iorque, Londres, Los Angeles, Paris? Ah, porque os seus produtores acham que, fora do circuito tradicional, tudo não passará de treino, laboratório, de um grande ensaio, com qualidade, certamente, e ninguém perceberá nada se a banda vier a ´cair n`água´ ou outro problema ocorrer. Que tolos, hein? Ou somos nosotros otários?
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