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Mensagem: TEMPOS DE MATO VERDE Wanderlino Arruda Depois da leitura completa dos originais do livro A Trajetória de um Vencedor, de José Luiz de Almeida - misto de cuidados e lembranças - debruço-me nas anotações como quem chega para reviver realidades e sonhos de um bom tempo de vida, juventude de venturas e aventuras, alegria de cada manhã de escola e tardes de muito banho de rio e busca de umbus na gostosa fase entre o verde e o maduro. Lembro-me, como se fosse hoje, da madrugada de 1949, início da viagem de Mato Verde para Taiobeiras, caminhão cheio de coisas de mudança, família ainda pequena, Jurandi e Vilmar os mais novos. Meu pai e minha mãe apressavam-me para terminar de escrever as marcas de saudades que eu gravava com giz na calçada, parte pelos amigos e por D. Zema, a querida professora, maior parte por deixar Pinha, a namorada loura, de olhos azuis da cor de um céu em dia sem nuvens. Eu não queria largar nada do que vivi em cinco lindos anos de existência. Tudo representava uma experiência incrível, prin cipalmente no gosto de ler, escrever e fazer discursos. Ainda bem novo, sem completar quinze, era eu autor de palavras cruzadas, bom fazedor de charadas, reconhecido por habilidade na escrita Morse, mesmo sendo o meu trabalho, no correio, feito por telefone. Era mestre na arte de engraxar, de vender biscoitos, fumo melado e pinga, e por correr de bicicleta e ganhar campeonatos em jogos de pião. Por ter aprendido muito de filosofia, história e até de política em conversas de botecos e de farmácia, considerava-me - sem favor de terceiros - um hábil intelectual, e muito pouco me prendiam as pregações do jovem Newton D`Ângeles, padre culto e admirado, mesmo sendo a religião o meu centro de interesse. Só faziam sentido as leituras que me atendessem à curiosidade e pudessem marcar um mínimo de lógica na liberdade de pensar e agir, nenhuma peia para o livre arbítrio, que eu ainda nem sabia o que era. Por muitas vezes ao entrar em conversas de adultos, fui repreendido e até censurad o, nem sempre com educação, minha ou dos concorrentes nas ideias. Toda esta conversa tem muito a ver com este livro de Jorge Luiz de Almeida, tanto nas competências e tendências, como na coragem de enfrentar a vida. Ele e eu quase no mesmo ambiente, com certeza no mesmo encanto. Mesmo com o calendário uns quinze anos depois, Mato Verde já cidade, área urbana incomparavelmente maior, muito mais recursos, mais escolas, muito mais nomes de pessoas, bem mais sobrenomes de famílias. Queiramos ou não, o viver e conviver acabam sendo uma curiosa reescrita, fatos e personagens se superpondo, ganhando as mesmas tonalidades, repetindo os mesmos gestos, desenhando mapas bem parecidos. Quando chegamos a Mato Verde em 1945, para morar ao lado da pensão de Hermes e D. Olindina, vizinhança também da família do avô de Jorge, foi um maravilhoso começo de experiências. Era um lugar mais do que tudo de valentia, começando por Arabel, Aristides e Vital, homens a quem ninguém podia negar o direito de usar um trinta e oito ou uma carabina. Todos garantido s por Levy Silva, o dono de Monte Azul. Na comemoração da vitória eleitoral do presidente Eurico Gaspar Dutra, um barulho infernal, nenhum foguete foi usado, só tirambaça de jagunços e patrões, todo mundo correndo a cavalo pelas ruas e becos, epicentro na praça, cercanias do mercado. Houve uma noite que minha mãe ficou mais do que cansada de tanto servir café com quitandas - biscoitos, bolos, broas, pão sovado, manuê - para meu pai receber as visitas de todos os importantões, que desejavam saber a que viera e o que ele iria. Meu entusiasmo maior foi conhecer o velho Januário, major da Guarda Nacional e marido de Dona Pimpa, agente do correio. Ele vestia um uniforme realmente lindo e portava uma espada, para marcar muito respeito. Com Arabel e Tide, estava Vital, que agora preciso dizer que era o valente avô de Jorge. Vital era alto, magro, cabelos revoltos, olhos de lince, sempre com um trinta e oito, que manejava com a mão canhota, tiro certeiro. Eta tempo bom! Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros
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