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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 19 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Sexta feira de 29 de agosto de 1967, às cinco de vinte da tarde, calorenta, ventilador ligado sobre ele, falecia meu pai em meus braços. Isto há 48 anos atrás. Abria-se naquele instante uma ferida que não se fecha, uma saudade que não vai embora. Num dos últimos movimentos, tentava chegar mais perto do ventilador para respirar. Mal sabendo que seus pulmões estavam tomados pelo líquido não mais absorvido, o fígado paralisado, os olhos me fitando como se me quisesse dizer alguma coisa. Nem deu tempo de me despedir dele. Coloquei a cabeça que se encontrava em meus braços no travesseiro, fechei para sempre aqueles olhos vidrados e me tomei invadido de imensa dor. Há um mês antes, parecendo despedir-se dos parentes pelo Rio de Janeiro, Minas, viajando os três, eu, minha mãe e ele, quando encontrou seu irmão caçula Dante Esteves, ao apresenta-lo a uma colega do Fórum, Nélia, visionária de muitos desastres, eleições, catástrofes, exclamou, lamento dizer mas ele não tem um mês de vida. Clarins, tiros e lágrimas, foram substituídos pelo reconhecimento quando em vida, através das armas brasileiras, pelas comendas que deixara, jamais eleitoreiras ou criticadas como injustas ou não merecedor. Nascido em Sete Lagoas e tornando-se Montesclarense pelo reconhecimento de sua gente, pelo político, profissional e cidadão honrado que foi, suas homenagens e seus aplausos se desvaneceram levados aos arrabaldes pelos ventos no caminhar do tempo. Deixava este mundo um pai exemplar, marido perfeito, um patriota que talvez preferisse morrer pelo País, um político sem jaça, um mineiro das minas e dos gerais que se empobreceu na política, mas rico de qualidades, o menino humilde que na adolescência sonhava ser maquinista da Central e adentrou no Senado, em substituição de um senador de seu partido, e por bem mais tempo na Câmara dos Deputados, para cair trabalhando na tribuna em defesa de seu Estado, sua terra, seu Norte de Minas, na recém inaugurada Brasília. Morria aquele estudante que numa manifestação da UNE, foi o primeiro a clamar pelo monopólio do petróleo e a criação da Petrobrás, hoje praticamente assaltada pelos maus políticos e pelos maus cidadãos. Morreu naquela hora, o Esteves que anunciou em Montes Claros a inclusão do Norte de Minas no Polígono das Secas, através de emenda sua, e que na sua terra era criticado - deixa de ser besta, isso aqui é terra rica, não é caatinga do nordeste. Ainda incluiu uma estra da, hoje BR 135, no Plano Rodoviário Nacional, e teria trazido uma patente para banco de Montes Claros, quando novamente criticado - ora Zé Esteves, se aqui tem banco do Nordeste e do Brasil, pra que banco. Foi quando JK permitiu a fundação doe Banco Agrícola em Sete Lagoas, e outro no Triangulo, semente do Bradesco. Os enterros que os estudante fizeram na sua vida política, apesar de quantas vezes recebido com flores pelas ruas de Montes Claros, não chegou nem perto ao seu majestoso féretro, quando no cemitério do Bonfim, em Belo Horizonte, rodeado dos mais expressivos nomes nacionais da época, desceu sua urna para ao lado de seu pai, Américo Esteves Rodrigues, deixando seu corpo que não mais lhe pertencia para o rumo eterno dos justos no Céu. Visionário, sofreu o ostracismo quando abandonou a política, lendo e ouvindo os mestres de obras feitas tomarem para si a criação da Sudene, resultado da inclusão no Norte e Minas. Cumpriu seu dever, sem pedir nada da Nação, sendo o único a oferecer, já casado, sua vida em Montes Claros, como voluntário na Segunda Guerra, sem usar nada Dela, pelo contrário, devolvendo dinheiro por não aceitar uma viagem ao exterior a convite dos Estados Unidos para não ser delator de seu País. Adversário do Getúlio, após a morte deste num 24 de agosto, jamais permitiu que se falassem mal dele, comparando-o aos grandes estadistas pelo mundo. Adorador de Cristo, dos grandes nomes, humanistas que contribuíram pelo progresso do mundo, pelas igualdades, pelo respeito às leis, foi meu professor emérito, quando doente, no almoço me chamou atenção porque fora de carro a aula. Mas, papai, o senhor nunca se importou. Mas agora é diferente. Antes o senhor estudava numa escola particular, escola de ricos, mas numa escola pública eu te proíbo, Nunca queira ser melhor que os outros pelo o que o senhor tem, mas pelo o que o senhor é. Morreu um professor, advogado e vencedor das injustiças, das maldades humanas, fosse cristão, me levando sempre aos domingos à missa e me ensinando dar esmolas, fosse maçom na luta pela liberdade, igualdade e fraternidade, contra a ditadura, fosse na sala de aula como professor, fosse como um dos mais expressivos brasileiros, que me criou, educou e me deu o sentido de Deus-Pátria- Família. Esse País perdeu um memorável filho, como perdi, enquanto tinha meu Pai no Céu, e aqui na terra era ele meu pai. Saudades eternas, meu Pai.

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